terça-feira, 29 de abril de 2008

Pa(lavras) ciscos

Riscos, ciscos nos olhos;
Fatos, carimbos na mente;
Mentem, desmentem;
Dizem somente;
Escapam semente;
Engalfinham-se na gente, entre a gente;
De mãos dadas;
Separadas;
Sem senso;
No senso;
Impartilháveis às vezes;
Edificam colossais;
Lavras, pavoneiam;
Quebráveis, quebra-cabeça;
Abismais;
Sem mais, freio;
Na ponta, no meio;
Entremeio;
Até mais!

sábado, 19 de abril de 2008

"Enrigelados"

Na ponta da lâmina,
O músculo, o sangue,
Os vasos rompidos na carne,
Os vasos crescidos,
No volumoso bíceps, no tríceps;
O corte preciso,
De olhos congelados,
Na câmara que refrigera,
“Enrigela” a alma;
O boi no cercado,
Depois da linha, fila,
Fim de linha,
Tombado pela carne,
Na marreta, no choque,
No susto sem susto,
Na cena banal,
No ambiente frigorífico,
Terrífico;
A vida morte magarefe,
A morte vida do boi,
Sangue e carne,
Na mesa,
No morno bucho;
E magarefe lá,
No frio corpo,
No rosto rijo,
No olho fixo, na carne.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Sobejo

Grãos de arroz, feijão,
No prato, no lixo
Restos de emoção,
Na alma,
No coração corroído,
Sobras inevitáveis,
E tão evitáveis,
Comíveis,
Amáveis,
Amarguráveis,
Esquecíveis,
Inesquecíveis.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Métrica metroviária

Não é uma janela qualquer,
É uma multiplicada,
Aberta para um pedaço de mundo generoso ‘escaposo’,
É abertura andante por sobre os trilhos,
De imagens multiplicadas,
Andantes ao passar dos olhos;
Ficando diminutas,
Se agigantando,
Feito a vida,
Pequeninas, grandes, pequeninas,
Sumindo, aparecendo, sumindo....

domingo, 6 de abril de 2008

Ver o som

Quero ver seu som;
Quero ver seu silêncio;
Degustá-los com papilas indiscretas;
Tocá-los com pontas de dedos;
Dendritos da alma.

De olhos fechados,
Construir imagens;
Receber cúmplice,
Sem constrangimentos, os sinais inesperados.

Ser morcego;
Seu eco, meu guia;
Cega,
Visionária do som,
Do seu som...

quarta-feira, 2 de abril de 2008

À francesa

- Ei? Você podia me ajudar? Nenhuma resposta.
- É sobre as pastas...chegaram? - Je ne parle pa portugais...seguido de absolutamente nenhuma expressão ou gesto; os olhos fixados no laptop escondido atrás do balcão...Eu latina embasbacada, humilhada...Depois pensei: poderia ter dito Oui Madame, pardon...Pelo menos isso eu saberia dizer, mas não...virei-me ofendida; cabisbaixa fui embora. Poderia ter feito um barraco; ela não entenderia nada, mas quem sabe esboçaria algum movimento de face. A Francesa estava ali na minha casa e do outro lado do continente Europeu, e eu era obrigada a saber quem ela era, falar sua língua, ou no mínimo, não importuná-la naquele momento só dela, da Francesa. A grande divisória que nos separava aumentou ainda mais. O lado de lá do balcão sediava momentos antes, poucos momentos, a entrega de material para o III Simpósio Internacional de Lingüística. A tal pasta com os folhetos tinha acabado e fui reivindicá-los momentos depois. Talvez esse tenha sido meu erro; tudo mudou de lugar. Antes era ocupado por estudantes brasileiras, falantes fluentes do português...mas a Francesa ocupou o espaço momentos depois e eu tinha que saber que seu momento era único, ela era única, por isso, a resposta foi mínima, sem olhar ou movimento...Eu na posição dela, certamente, teria feito caras e bocas, esboçado gestos de sim e não, o que fosse necessário, sem contar a comiseração por não saber sua língua...O tema do encontro era Análise do Dircurso: emoções, ethos e argumentação. O ethos da Francesa falou mais alto e eu saí à francesa.