quarta-feira, 10 de agosto de 2011

'Ilusionados'

Eu sinto essa imobilidade, minha e de todos. Sinto arder em meu estômago, uma das vísceras da alma. Onde estarão as virtudes? Se as soubéssemos...que bálsamo teríamos. É que hoje tanto faz, posto que tudo é perdoado, embora a tortura seja lenta e silenciosa para quem não quer sentir, ouvir. Torturados de vendas, a não ver o carrasco nem forca, senão um imaginário torto sem os encantos surreais, mas invertido, carcomido, como uma cicatriz, viva cicatriz. Se tudo quanto queremos está lá na prateleira, basta colher sem os esforços primitivos da coleta, basta pegar e trocar por papel inerte, um engôdo engenhoso pra nos livrar do peso mineral, um engôdo fosco de brilhos em personagens e natureza morta. Sentes essa imobilidade? Essa sedução ilusão? Crês talvez na incompreendida luta de conjecturar saídas para onde não há saída, labirintos minotáuricos, essa fusão tão apropriada ao humano enganador. Não, não sentes a imobilidade, posto que avanças irrefreável ao gosto de pegar pois qualquer beneficiado à venda, agregados ilusórios de valor, apêndices criados em avanços de narcisos, cheios de vontade de poder. Mas não queres colher amor, posto que este pressupõe o primitivismo da troca. Pressupõe também o trocar em abstrato, para além do objeto. Há nuances maravilhosas nisso, imprecisões raras, acertos inimagináveis de sentir.

ESCREVI ESSE TEXTINHO, COM CARINHO, PARA OS AMIGOS DO http://www.pessoasatoa.blogspot.com

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Apontamentos filosófico-culinários?!

Apontar não é pôr ponta, senão dizer da ponta, da ponta da língua, amiga do gosto, filosoficamente palpitante por papilas descobertas, amigas, receptáculos engenhosos de sentir gostos, o tempero de cada alimento, sofrimento e gozo. Temperar não é moderar, é antes tirar vantagem e ultrapassar o gosto original, sem temperança, posto que tempero é saliva abundante, rio de sabor. Outro dia desses Mariazinha aguou na boca de tanto sabor irreal pelo tempero de alecrim. Alecrim veio doce na berinjela ao vapor, veio doce em conserva no azeite; alecrim declinou o amargor do jiló. Alecrim não era mais dourado de campo, cantado na corda do violão, vinha só na sensação da cor pelo gosto. Alecrim temperou, Mariazinha gozou, gozou no sabor nem doce, nem salgado, gozou no entrelugar de suas papilas de memórias vãs e outras recuperadas, inteligentes, vivas papilas a temperar sua alma de (im)puro alecrim.