domingo, 28 de dezembro de 2014

Da palavra, Da escrita

Ela suspeitava da insuficiência da escrita desde sempre, até se certificar sobre o fato inequívoco; palavra é bem maior e irrepetível, e irreprimível. Escrita não passa de desejo, intenção de fazer sentido nesse mundo tão subjetivo; esforço de fazer compreender-se, ficção no meio da língua inusitada em permanente processo de interpretação ação.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Gente

A gente é coisa que não se entende mesmo; a gente se sente, não se entende; e a gente que se sente, sente parte, um naco no aparato incerto de ser; porque gente é toda gente, é seres; e a gente é só uma gente nesse mar de gente que se sente.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Desaparecer

Se em dado momento estamos, logo viramos spectro. Se em dado momento mudamos, então somos apenas spectro do que já fomos. Somos apenas luzes que carregamos; somos guiados pelo movimento do desaparecimento dos lugares e das mentes. Os que se lembram sequer nos contam como somos, mas simplesmente como nos perceberam ao passar da luz. As vezes sobra um calorzinho, outras um fogaréu que se apaga, ou ainda um frio de morte.

O que não está

É o que não está que nos perturba grandemente; a palavra que não se diz, o gesto descuidado, as mecanicidades do dia a dia, os porvires inconsistentes, inconscientes, as vidas que se apagam num virar de rua. É preciso uma visão apenas, que grite, mesmo que depois da árvore ela desapareça; desde que renda um poema ou um sentir estranho qualquer que não se apaga. Nesse caso não é sumiço nem rebuliço, é como uma névoa que adentra as narinas, inunda sentidos até virar sonho de lembrança.

Árvore de natal

A árvore de natal da mamãe é feita no cactus. Ela se debruça sobre os espinhos para fazer o cactus florir. Ele fica todo vistoso e ainda guarda aquela água ancestral do sertão, de quem viu carro de boi a moer cana e cabrito raspando restos de ervas na caatinga. A árvore de natal da mamãe é mais árvore para mim.