sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Abraço escarlate

Sonhara com uma névoa escarlate, morna a flutuar em seu entorno, corpo. Uma ambiência quase sonora a beirar silêncio, medrosa de importunar o enlace suave, toque de nuvem. A névoa carregava, embalava, faiscava sem incendiar; vela cumprindo pedido. Era como uma oração sinuosa, um rito pagão santificado, exorcismos de sentir; a névoa morna; abraço escarlate.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Vastidão

Pensara que sofria de vastidoes; enganara-se por certo. Vastidão era o além do além, algo que emergia pra submergir em seguida; não apenasmente seus passos longos de sonho até o infinito. Na vastidão cabia finitude de cada dia, limites adoráveis cobertos de gestos insuspeitos, silêncios e gargalhadas, sustos e encantamento. Vastidão não cabia na palavra, escorria rio e aportava e navegava . Era o bico enviesado da canoa com custo endireitado e depois o sossego do prumo por instantes. Era a voz que guardava o caminho desconhecido, o pai e o filho, a atitude matriarcal de cada dia, os ninhos escondidos, as fugas do olhar, os mergulhos de olhos em ondas de mar e mansidão de lagoa. Vastidão era retidão também; delicadezas em tempo vivido sem pressa, coração em sobressalto e calmaria, medidas sutis inauditas, sentidos de faces raras e tão comuns e tão exóticas. Vastidão é desmedida que não sufoca e desespera, é medida que chega em tempo de acalento.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

contradição platônica

De tantos que somos, há alguém que mora na caverna da contradição iluminada, no lugar escuro onde a luz da imaginação aquece os sentidos do saber; aninhar, costurar historinhas singelas, tocar palavras esquecidas e inertes, afetar adormecimentos, cintilar verdes e azuis até avermelhar e aquecer não ditos sentidos, o outro em nós mesmos.

erótica

Se aos humanos fosse dado o poder de ver e sentir todo erotismo da vida; transcendente ao tocar dos corpos e ao vislumbre estético padrão; Se tudo o que fosse visto fosse um enternecer erótico, de singeleza que afronta e provoca; Então a busca do prazer deixaria de ser compulsão; Viraria, o prazer, um contínuo, infinitude de trocar; Nem haveria alheamento e indiferença.

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Pra começar

Pra começar é só dizer palavra bem dita; calar as vozes em desacerto com o desejo; desnudar o nu decorativo que embrulha pensamento e desfaz a verdade; Pra começar tem que ser bem dito pra ser ouvido sem ecos duvidosos; há que ser repetido sem enfado, mas por amado dizer, por certo querer dizer; Pra começar é sempre vontade de bem querer no bem dizer; Pra começar bendita seja palavra que sabe plantar o certo incerto de cada dia em acalento; Pra começar é só bem dizer.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

...

Tudo o que se quer da vida são os vazios e dúvidas compartilhados. Pode-se até fingir conclusões, assertivas momentâneas, mas o barato é dissolver conclusões e cair no vácuo, ser sugado pra infinitudes, desabenças, sentimentalidades, presenças parcas de racionalidades, encontros de natureza, sortilégios, privilégios acidentais.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Reto toda vida...

Esse jeito de dizer as coisas, esse bem de Minas, rende um tanto de pensamento. É uma forma de dizer pra economizar que acaba beirando infinito. "Olha, você vai reto toda vida", orientou cuidadoso o mineiro ao pedido do que não sabia como chegar. É sempre assim; "vai, vai toda vida, reto, e depois"...O entrave com a realidade é que toda vida é muito tempo. Vai que o desavisado encontra uma reta sem fim e segue? A sorte é que a curva chega; pode demorar mais chega. Mineirices de querer infinito.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Sorridente

Sonhara com a liberdade; era como estar de olhos fechados em beijo bem dado; o destino desconhecido, o ponto de partida irreconhecível; os afetos levava-os consigo; vez por outra assaltava-lhe imagens de museu em cenário de luxo de outrora, mas do lado de fora eram múltiplos banheiros de faces expostas, e um lamaçal sorridente, tanto que se deitava sobre ele junto com os outros animais, brincava, corria, amava sem pudores, poetava; e nada fazia falta, sobrava.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

...

Era de pouca fé, mas carregava toda fé do mundo; insistia na poesia em tudo que a circundava; a despeito das atrocidades se lamentava pela ausência de licença poética; é que alguns não se permitiam ver a poesia explícita ou latente; sim! havia por certo poesia em semente, imaginação adormecida.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Se soubesse

Se tudo soubesse dessa matéria do viver; Se custasse uma vida aprender; apreender essa ode; Bastaria todos os lados em definição, finitude; Ah! Nem precisaria de mais saber em dado ponto concluso; Se soubesse gastaria menos peripécias, menos tentativas, menos evasões e encontros em desacerto; E por não saber fica assim emaranhado no caos, sem medida certa que medir, com ímpetos de conseguir ou naufragar; O se soubesse pesa desfeito e termina por fazer a mais elevada reverência que é não saber pra saber mais e aprender essa matéria, ora impulso, ora inércia; ora flor, ora ardor, ora amargura, ora candura; Se soubesse dessa matéria do viver, o que saberia?

Como a vida...

A escrita é cria da gente e do outro em nós; ela vem ansiosa pela ponta dos dedos numa conexão misteriosa, vinda de um lugar que urge se expor. É uma sede pelo branco sem margens, geometrias que se expandem e perdem o ar e puxam o ar. A própria vida é mesmo assim; um fazer de pontas de dedos.

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Avesso

É o avesso da vida, entrante, sumido em nós, guardado nos escondidos momentos de afeto, raramente divulgados; o que não se vê por fugidia intensidade, tão transitável que flui, escoa rio; atmosférico a rondar e brincar; que perpassa aquilo que teimamos chamar alegria; é em verdade, o avesso pulso de vida.

normal?

...a normalidade é a ideia mais absurda da humanidade; é por meio dela que se instala a pseudo humanidade, disfarces insistentes de uma lógica distante da natureza. Somos essa perfusão de substâncias endógenas e exógenas que nos submetem aos humores conhecidos e estranhos a nós mesmos.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Intrigância

Intrigava - a todas as formas de afetos. Aos exagerados concedia o perdão da empolgação, mas pensava - os como um torvelinho prestes a se desfazer. Aos escassos , cria - os dementes como uma má - formação congênita, um tipo ou subtipo eterno, calcificado na ausência dos sentidos pouco práticos. Por certo, não havia os afetos plenos de equilíbrio, mas um tipo curioso, respeitoso até na dúvida. Esse poderia se autogerar, retroalimentar-se como um processo fisiológico muito bem acertado com os sentidos pouco práticos e adoráveis. Então, esses eram os afetos menos intrigantes e mais intrigantes, que beiravam a verdade da delicadeza; uma certa justeza no sentir sem esgotamentos e transbordamentos fatais.

nu

A única forma de viver é estar nu; todas carnes, ossos e sangue à mostra, vestes compreensíveis da vergonha e devassidão; por que te vestes e te iludes? Viras retalhos em super exposição; aí é que te olham pra ver se encontram algum espírito; agora nu, estás repleto em suas partes inseparáveis; falam cada uma delas a esquecerem - se das outras, lindamente desavergonhadas, límpidas como um suspiro , vento na vela do barco, amplidão.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Custa-nos...

Custa-nos amar o silêncio porque o primeiro murmúrio causou encantamento. Descoberta é assim; arrepia e provoca uma compulsão, tudo a se repetir. Aí o homem tentou tanto que conseguiu transformar balbucio em palavra, até que o gesto adormeceu. Por isso, custa muito amar o silêncio, atinar o olhar e aguçar as terminações sensíveis da pele, ouvir o vazio onde tudo se dá em devaneio de completude.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Se me vives...

Se não morro é porque me vives; de tal maneira me olhas que me redime do instante pra chegar infinito; a palavra em escape da expressão cotidiana é o que vives em mim; faz -me ganhar a luz sob as pálpebras, fechadas e lúcidas; tapa - me os ouvidos dos ruídos todos, nós de gritos. Voa - me porque me vives e não morro.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Gonçalo Tavares

Acho tão límpido o que diz Gonçalo Tavares; 'as pessoas que nos morrem'. É como se viesse uma claridade sobre o tempo em lugar de pura percepção. A morte, então, não é uma estatística ou uma evidência substantiva, embora por vezes a queiramos assim. A morte tem natureza verbal; só é porque está em nós; as nossas pequenas e sucessivas mortes, e os nossos afetos e pessoas que nos morrem. E se nos morrem; deixam - nos a ideia irreprimível da oquidão, porque já não estamos os mesmos; morrem - nos cadentes, facho de luz até escuridão; desenlaces de memórias, pouco a pouco reprimidas no fluxo que segue tão adiante.

Palavras e dias

Somos as palavras e os dias; os dias e as palavras. Estivemos por longos tempos a esquecer os gestos em busca do suposto preenchimento dos dias; palavras nomes a nos sumir. Os dias e as palavras; esconderijos para a angústia do nada, ou seria melancolia a se provocar por essa repetição dias e palavras; tédio de perder o gesto na ilusão de dias e palavras para falar do céu e esquecer do céu nas matérias falsamente inertes.

...

Tantos a falar sobre sobriedade; a exaltar os bem comportados; a consciência profunda lúcida. Ora, como se enganam nessa busca da verdade; mortos vivos que não se permitem o prazer dos ébrios e alucinados. Há que se viver essa curva do sonho e do esquecimento; esse desnudamento; afetar os instantes.

Noites tontas

Ah...quanta lucidez em noites tontas; quantas percepções em olhos fechados, e se abertos quantas visões pictóricas; quadros perfeitamente alinhados em emoção, os registros mais sólidos da memória; noites tontas...

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Além da margem

Fotografias não revelam o instante, mas o espírito do tempo em sua subjetividade e objetividade. A imagem na foto é o tempo e o espaço enquadrados para além da margem. É o esforço de percepção que se condensa e sublima em susto e ternura.

domingo, 5 de julho de 2015

A bola certeira

Tinha poucos anos para se tornar menos medíocre. Sabia que a grandiosidade era para poucos, se é que de fato existia; a grandiosidade. Fato é que pesava-lhe um egoísmo e desejo de solidão, embora não pudesse fugir da necessidade de acalento, dos cheiros e fumaças da cozinha, dos cobertores e lençóis superpostos em meio a ruído de mãe e da felina misteriosa. É que a proporção se igualava de súbito; vontade de silêncio e de som. O palavreado sucessivo cansava-lhe os ouvidos, mas em silêncio atormentavam-lhe os pensamentos insuspeitos absolutamente tendenciosos, por vezes rasos e torpes, por outras, profundos e amáveis. Não via encantamento em quase nada, mas disparava-lhe o coração por uma arte em tela, por um filme a correr, por uma música surpreendente, por um texto prosaico e poético a dizer-lhe verdades de forma condensada e certeira a fazer-lhe reconhecer-se estúpida e também inteligente. Descobria-se neste ato de se desentender dia após dia, nessa dúvida própria dos medíocres, não piores, simplesmente medianos, jogados no mundo em lance desacertado em busca da bola certa, encaçapada sem rodeio no aro.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

sentido e significação

Para ver sentido na vida é preciso não perguntar sobre o sentido. Pois que toda pergunta é fatal; gera dúvida. Então, o sentido só se completa no vivido e não na busca do que viver; o sentido dos sentidos... e não na significação a que também denominamos sentido.

Fato

Estamos mesmo todos rodeados de fatos; fatos programáticos e contingentes, fatos vestimenta. A roupagem um fato indiscutível para reprimendas ou louvações. Um modo fático e fatídico também para olhares discretos e indiscretos. Desleixo e elegância se cruzam no mesmo ponto fatal, da submissão ao fato de como existir. Roupagens de dizeres e de fato, que no profundo rodeiam o mesmo barco.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Pseudo fantasmas

Não sabia o que fazer com a inteligência tão aguçada daquele fantasma. Daqueles fantasmas vivos pseudos; tantas expressões em multidões de contrapesos e paradoxos imutáveis e cambiantes. Diziam que era Pessoa; outros, que era Fernando. A unir os dois, Fernando e Pessoa, estranhava o Fernando, posto vê-lo muito mais como Pessoa. Quantas fantasmagorias líricas; quantos realismos torpes revelam as pessoas. Mas foi Pessoa a dizer dos não ditos e por isso ditos que se desdizem a todo instante; fantasmas.

terça-feira, 16 de junho de 2015

Oquidão

Já ouvistes falar em oquidão?! Sim, é um fenômeno mais ou menos conhecido, mas que gera certa confusão. A oquidão nasce do esforço exagerado de encontrar palavras. O excesso de ênfase nas palavras dá rouquidão. Mas a aventura de encontrar o não dito dá oquidão, retumba e não sai, não há ressonância. Depois de instalada a oquidão, esse oco sem expressão, resta apenas o gesto.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

ridiculamente humanos

Alguns encontros tem o sabor da fatalidade; poder - se - ia dizer acidentais. Por isso mesmo gozam do privilégio da lembrança insistente, intermitente. São da ordem do desvelamento, afloram o ser ridículo em nós. Teimamos dia após dia em justificar a nós mesmos os inexplicáveis; intempéries. Incidentes ridículos de seres ridiculamente humanos.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

... ...

Curioso como lugares vão morar na gente. É só passar e a cena de passagem ou estada ressurge em névoa densa no tapete da retina. Lugares são como marcadores genéticos; potências patológicas imunológicas de um visto não visto; labirintos encantados de encontro e desencontro.

'o que é a vida'???

A vida às vezes se reduz; parca, rala, enquadrada. Por vezes se amplia; vastidões, espaços largos de linhas que não se fecham. A vida são essas geometrias planas e espaciais; esses ângulos agudos, nervosos, mas aparentemente seguros. Ou esses cantos abertos a se desfazerem em sonho de campos desvairados; círculos alucinados em jogos de escolhas. Um ninho em abandono; topo de árvore sob vento e tempestade. Amplidão e casa. A vida embaraça, abraço e desenlace; linha torta em pontas de setas cegas visionárias. A vida vê e desacredita. A vida imagina e crê.

terça-feira, 9 de junho de 2015

...[(

Porque a compreensão só se da mesmo entre loucuras; entre sanidades são apenas ironias e incompreensões. Pois bem, tente ficar louco e entrar na loucura do outro. Caminharão os dois pra qualquer lugar que seja em perfeita harmonia, nos seus mundos mágicos, sãos de loucura.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Inverno na cidadela

Mortal! Não havia melhor palavra para descrever aqueles domingos de inverno na cidadela. Até o recepcionista da paragem concordara; 'não há palavra mais adequada'. Depois do vinho e da massa quente, um certo rubor interno, acalento de instantes. E os cafés? ! Deveriam decretar expressamente; 'não podem fechar em dias de inverno'. Pois a pena de tê - los fechados era condenar os estrangeiros à total insignificância. Eles mereciam pelo menos a visão reconfortante da fumaça da cozinha e o cheiro do café pra resistirem aos invernos da cidadela.

Intensidades

Não havia líquido vermelho que amenizasse sua tendência a intensidades; vinho indiferente. O médico havia dito nos idos primeiros que não era dor de crescimento aquela dos tornozelos, mas dor de abandono. Então eram intensidades. Ora, e tudo que se sente em demasia, estiramentos e contrações absurdas, não são intensidades?! Sofria intensidades pelos quintais que sobraram vazios de brincadeiras, de saudades dos olhos anuviados de um amor taquicárdico que não se soube, das crenças em ilusões disfarçadas de verdade, das incoerências falhas...sofria de intensidades...

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Barco-pipa

Por hora, servia-lhe um barco-pipa sob o comando de um pequenino. Assim, cairia-lhe bem o mar em tormenta e remanso, e o ar de brisa e vendaval. Quanta aventura nesse navegar água e mar no fio da linha.

Porões

Sempre gostara dos porões; que tivessem teto baixo, ainda melhor. Espaços submersos, submarinos da alma pra qualquer gesto desavisado, os porões já foram ternura e não escravidão. Eram como cavernas diminutas, flagravam todos os sentimentos, medo, mãos dadas, a perspectiva da luz ao final e o mais acalentado deles; um sentir de lagarto a rastejar, retorno ancestral em meio a luzes cintilantes.

Victor de barro

Muitos nos são apresentados em momentos adiante do que poderiam; Fica-nos o sentimento ansioso da permanente descoberta do já desaparecido; De alguma forma comungamos um sentimento, uma emoção que se enlaça; Uma expressão que ecoa nos ventos de um passado em memória esquecida, mas revivida nos contares; Curioso nos parece o desaparecimento em desatino; A falha submersa na história em desafeto; Raro pareceu-me Víctor Jara, um jarro de barro no deserto das emoções, de barro.

Doçura

Por certo, já ouvistes falar em doçura. Ela chegou até nós mirrada, saída de um mato vizinho. Nunca conseguimos nomeá - la; essa sorte ela teve. Podia ser chamada linda, charmosa, gostosa e arreganhada. Sim; abria as pernas por um carinho na barriga quentinha. Vários nomes foram aventados, mas não couberam em seu jeito variado. Foi embora hoje de jeito inesperado. Deixou - nos o gosto da doçura.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

spectrais

Se os olhos não podem ver, o espelho se encarrega. Ironia ou coincidência; foi assim aquele encontro desencontrado versão duplicada. A imagem teimava em se fixar num voyerismo acidental. Fora sempre assim; ele e ela em noite fria que congela; spectrais.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Pan

Somos todos deuses Pan, rodeados de pandemônios, pândegas, pandemias. Cabeças de homens com instinto ruminante, de pensar que não se acaba, com adornos córneos insistentes de histórias que escapam. Somos todos deuses pan, de pés laminados inflamados a caminhar por descaminhos em busca de anestesia. E os pelos que nos nascem em espessura e tamanho são essa mesma lembrança epitelial dos tempos ancestrais pan, que nos sobrepujam para esse contemporâneo fadigado de pensamento, loucos para correr pelos campos em desatino e encontrar, e tocar a flauta mágica num lamento de ironia e libertação.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Amiga

Toda vez que se punha a pensar naquela amizade sem fim, transbordava em tempestade. A palavra vinha oca, num vácuo de imprecisões de um amor que não se consolidava, mas explodia. Teimavam em dizer que ela era sua mãe, mas essa palavra não cabia nos máximos de sentir. A cada dia uma nova raiz crescia em seus pés, mas a ponto de se fixarem, rompiam a terra seca no incentivo de liberdade que aquela amizade inspirava. Toda proteção era apenas o desejo de libertar em alegria. Era além do tempo aquela amizade. O amor maior.

Nuvens

Hoje as nuvens se deitaram no céu em forma de serpentes. Não tinham a cabeça em posição de bote, de defesa ou ataque. Estavam calmas a flutuar em mar azul e calmo. Sempre a surpreendiam; as nuvens. Assumiam tantas formas quanto houvesse. E como pinta - las? Pois que sempre vazavam do quadro rebeldes? Por vezes tão agitadas a dançar!? Como fazê-las parar para fixar - lhes em êxtase? Sobrava então o devaneio da nuvem que passou.

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Luso Ricardo

Entre esquinas, viradas e reviradas, perderam-se na cidade de nome Porto. Subiram e desceram ruas margeadas por sobrados e igrejas escurecidas em jeito típico de forasteiros, até que apareceu outro de nome Ricardo. Português de olhos azuis, e traços bem harmonizados com esses outros, mas cambaleante e um tanto decepcionado, choroso. Fez de tudo para guiá-los no mapa do caminho que desconhecia. No fundo queria dizer do ‘bolo’ que levara da provável amada que não chegara. No grupo seguiam moças namoradeiras, mas que absolutamente não iluminaram seus azuis. Seu céu tinha nuvens melancólicas de um marcado sem resposta. Uma das estrangeiras esteve ali ao seu lado a escutar seus lamentos, enquanto todo grupo se perdia nas linhas de mapa perdido. Ricardo não era mal intencionado; pelo contrário, era educado e bem apessoado. Foi-se num lamento, deixando a nítida impressão que o caminho era da descoberta. Enganaram-se os estrangeiros, que no fundo se divertiam em ruas desconhecidas ao cair noite. Ricardo delicadamente queria fazer apenas lamento poético luso, e assim fingiu conhecer destino de forasteiros no mapa e nos sentidos entoados em desacerto.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Amorfa

A sensação da beleza é amorfa; faz -se num instante, por uma silhueta em perfil que jamais revelará a fronte, ou mesmo por um traço em sua robustez ou delicadeza. A forma jamais se completa em ideal estético, mas transborda, vaza de si mesma, sublima.

( ) ( )

É nos implícitos que tudo é revelado. Tudo dito e tudo representado em pormenores parte do sentimento de insuficiência do discurso e da paisagem. As falhas aparecem em camadas que se aprofundam até o infinito. O que está lá se basta; nós é que não nos bastamos, ansiamos preencher; pobres de nós...

...

O prazer não é um abismo ou um encontro assentado nos aparatos da fisiologia. A ciência peca toda vez que tenta fazer esse enquadramento preciso. É fora do quadro que mora a fruição, o prazer estético. O gozo está no pensamento, apenas nas idéias prévias que vão compor qualquer cena. O prazer é pensamento potencializado pelos sentidos e fisiologia.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

...

No final das contas somos feitos é de silêncio. O som vem acidental. Por vezes, o som chega tão desavisado, que cala. Fica ali quietinho no pensamento de palavra boa, tanto tanto que cala. Resta o olho que diz, o nariz na inquietude do perfume, as mãos num desenho de afeto e o silêncio que grita.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Encantado

Não há melhor ideia para descrever a morte do que o encantamento de Rosa. Lembrara agora do seu pai preto que fora sem alarde em um boteco da avenida abaixo da casa dela. Silencioso até na despedida, pediu uma água e nem chegou a beber, pois já estava repleto. Viveu na simplicidade do fazer das mãos. Para tudo tinha um pensamento de conserto numa paciência que chegava irritar. Só muito mais tarde ela percebera o valor daquela calma; apenas uma forma de chegar na sua solução, porque não dava a mínima para as soluções rápidas dos outros. Cambaleava feito um copo que simula cair e não cai. Achava a vida boa e insistia nessa cantiga e no fazer impossível sempre possível. As mãos eram grandes e não encaixavam nos pequenos parafusos e canos submersos, mas ele esgueirava os dedos pacientemente até encaixar e desimpedir os caminhos. Ele foi silencioso feito alguém que não vai. Ficou encantado.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

A flor não está lá. A flor é apenas a percepção da flor. A flor pode nascer no cimento; pode nascer no campo infinito; pode nascer no coração da mente. A flor não está lá. A flor está cá.

?...

Eram a vela e o leme que direcionavam o barco na ventania, ou havia uma pipa a puxar-lhe o esqueleto pesado até o céu? A vida era um estar real, ou apenas um sonho vivido, lembrado ou esquecido, que fazia florescer a mente?

Veias abertas

'Veias abertas' chegou- me às mãos na tenra idade, mas chegou de um jeito acidental, meio corroído de traças, um tanto mofado, umas folhas caídas e outras prestes a cair. A edição antiga era severa, sem elementos pictóricos em capa, senão umas linhas mal postas em vermelho e branco; e claro, as garrafais veias abertas da América Latina. Adentrei aquele mundo de histórias da história meio assustada com tantos minerais escorrendo em letras, e uma delicada descrição, quase uma arqueologia do solo latino. Um sangue escorria grosso e brilhante em minhas mãos, enquanto meus olhos se enterneciam e se indignavam. Era a primeira vez que percebia esses veios cavados a escorrer riquezas e todo o efeito disso nas pessoas. Um tio por certo o lera,; não contara. Mas deixara nas caixas de livros antigos e eu o encontrara.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Quase amor

Aquele quase amor tivera o término por um parágrafo, nem tão longo, nem tão curto. Fora como um livro não escrito, suprimidas a introdução e a narrativa;, história interrompida. Os fatos ficaram suspensos por ordem do descuidado desamor que mais tarde viraria um oi mal saído feito um já foi. Curioso ter ido sem ter chegado, num passo esquecido. Aquela silhueta ficar-lhe-ia na lembrança do contrário; cuidado. Ia ao longe por alguém que amava, mãos postas sobre ombros e reclinar de cabeça aconchego. Por certo, podia amar, mas desamou em lapso de desatenção.

...

O transcendente serve para dizer daquilo que não ousamos ou podemos entender. A poesia também faz esse papel; transcender...

segunda-feira, 30 de março de 2015

...

Um dia perguntaram a ela o porquê de sua preferência pelos animais não humanos. Ela pensou bem e tentou com muita força duvidar de si mesma. Voltou ao animal do próprio humano, tentando nele encontrar as mesmas virtudes dos não humanos em vão. O animal no humano vinha com face endurecida, quase somente em momentos de fuga e defesa. A face espontânea, lúdica, ou até mesmo nas essencialidades; no alimentar, no reproduzir, no descansar e levantar, escapavam do humano. As pessoas estavam sempre em busca dos manuais porque desentendiam de tudo o que nelas lembrava instinto. Envergonhavam-se daquele esticar do corpo fora das academias; dedicavam-se exclusivamente aos bocejos em momentos de absoluta fadiga e tédio. O corpo ia endurecendo, enguiçando antes do tempo. Fatalmente a última recomendação seria o repouso. A falta de estímulos naturais do dia a dia enterrava o humano em um torpor quebradiço por falta de minerais, falta de essencialidades e brincadeiras. O humano se esquecia do código, das possibilidades marcadas; orgânicas. Nunca mais se lembrava, fingia que era máquina até obsolescer em si mesmo.

Inércia

Era certo que os animais e as máquinas tendiam à inércia, fosse em repouso, fosse em movimento. O desafio era encontrar o ponto de desatinar e o ponto de descansar em tempos de sensatez. O problema é que os pontos andavam sempre fronteiriços e havia guerra até o desenlace final. Ou morria - se em inércia consensual ou na euforia de não parar até o esgotamento. Guerra inglória.

quinta-feira, 26 de março de 2015

Cegueira

Nunca pensara que estivesse acima de qualquer suspeita. A própria palavra suspeita já remetia a essa suspensão, esse incerto de ser, ainda que se esforçasse em direção a uma conduta minimamente amigável, gentil. E tudo eram apenas instantes; uma virada de torso, de um olhar, e a oportunidade da gentileza escapara. Ou seria responsabilidade, responsabilidade pelo outro? Não fora intencional aquela ausência de gesto, senão uma distração perversa que sempre a tomava; pensamentos. Pra completar veio aquela bengala tecnológica a perscrutar aquela rua e os óculos meio cibernéticos. Ela jurara que o cego tinha algum apoio que fosse mais do que ela por ínfimos segundos, até que chegou alguém mais sensato e se dignou a atravessá-lo nos moldes analógicos. Ela então fizera parte da cena e saíra com o coração meio apertado pela falta de prontidão; gentileza.

terça-feira, 24 de março de 2015

Portugueses

Sempre me pergunto por que me encantam os poetas portugueses. Pois bem; eles falam de um sentimento intenso de amar, um transbordamento acidental que faz nascer flores. Eles falam também da intensidade da morte em nós, do vazio que nos recobre a despeito de todas as possibilidades de preenchimento. Eles revelam encanto e desolação, a quase exata medida de ser e não ser.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Mineral

Um desejo mineral a perseguia desde tempos imemoriais. Havia um linguista russo que dizia sobre esse desejo humano fatalmente expresso no seu linguajar, no seu agir. Talvez uma necessidade de permanência mais duradoura jogasse o humano nessa vontade inaudita; desejo, pensava.Voltava-se pois a sua aparente forma orgânica, aos tecidos epiteliais que a abandonavam diariamente, e para os quais não havia garantia de substituto à altura. Restavam sucessos, insucessos e mutações favoráveis e desfavoráveis. Enquanto isso, estava lá o mineral absoluto, gasto ao longo tempo, com uma organização estável, tão apropriado para as investidas da arqueologia, das datações. Agora a investida na organicidade era abismal, um buraco sem fundo repleto de camadas justapostas em permanente mutação. Então esse desejo mineral devia ser sinal do medo do precipício que sempre a perseguia.

quinta-feira, 12 de março de 2015

Pequeno comentário sobre a arte...

Quando miramos a arte, ou vemos arte no que parece não ser arte, fazemos um deslocamento criativo, avançamos em direção a possibilidades aparentemente discretas ou até inexistentes. A realidade tem um peso que cega, que emudece e provoca surdez quando vista na sua forma pura, um passante desavisado. A arte vai na contramão; ela potencializa os sentidos absurdamente, preenche um vazio temporal. É como se estivéssemos aprumados sobre o mar.

Os outros

Certificava-se lentamente de que quanto mais se isolava, mas o mundo a jogava em direção às pessoas para confrontá-la com o seu estúpido sentimento de suficiência. Não fazia por mal, senão por um jeito de evitar conflitos. Só que agora precisava dos outros para desembaraçar seus caminhos tortos, muitos por contingência, outros por inexperiência; alguns por completa ignorância e submissão. Restava-lhe, ou melhor, sobrava-lhe a convicção de que o outro é uma necessidade permanente, imanente. E a vida se compunha dessa soma inevitável.

Tiro

Só a ação faz mesmo sentido. A palavra é só o tiro que marca o início da ação. Tem ação que nem tem palavra. Sempre teimei na palavração, na fé ingênua de fazer com palavra um mundo ideal. Não há ideais, senão ações que traduzimos em ideais. No papel, na tela; tudo somente um esboço, o tiro! Resta saber quem vai começar a correr!

quarta-feira, 11 de março de 2015

...)

A vida é lutar sim contra o hereditário, contra esse atavismo uterino imemorial, fincado lá no código genético antepassado que forja os preconceitos de toda espécie, as formas de dominação inciais e consolidadas, o submisso inaudito, consentido por puro acanhamento e até estranhamento. Estranho é tudo o que coage e cala.

Repete

A vida se repete no pequeno traço do passado; naquele perfil há tempos registrado e no alcance enviesado das aproximações que se fizeram distantes. A vida se repete no mesmo chão de encanto que depois vira desencanto; e é custoso compreender esse ponto de mutação de rumo desconhecido, esse foi não ido, essa máscara de segredo, antes limpa, de tão limpa informe, bela na imperfeição. De repente vem a rudeza do gesto que cumprimenta o antes nunca visto, e segue os passos, e segue o chão, e outros ainda passarão sem gesto algum ou emissão de som. E a vida se repete com suas fitas protéicas a dançar em mistura, empírica e modesta, enquanto a morte não vem.

sábado, 7 de março de 2015

Antes

Primeiro não veio a palavra. Veio o gesto, veio o som. Palavra é coisa que se usa para compensar o seu próprio desuso; dificilmente cabe bem, ora até cabe por força das circunstâncias, da emoção. Em outras, soa falsa, malidicente, inapropriada. Primeiro não veio a palavra. Aliás, não se sabe o que veio primeiro, quando muito, sabe-se o que veio antes.

quinta-feira, 5 de março de 2015

Enigmas

Toda vez que teimamos em fazer combinação de palavras estamos querendo é ser reconhecidos, ser devassados por dentro e por fora, como uma coleção de escrituras mágicas, repletas de fórmulas que traduzem ou obstruem o entendimento sobre nós mesmos. Combinação de palavras só é dada para quem nos lê e ousa perceber ou incompreender. Uns nunca saberão sobre nós, escritos encantados. Outros terão a ousadia, aventurar-se-ão nesse caminho de desencontro e tentação.

quarta-feira, 4 de março de 2015

eu você

Porque eu estou lá é dentro de você, naquele lugar obscuro em que você formulou minha personalidade e minha total ausência de persona. Foi lá, dentro de você que tudo se deu; na imagem que invadiu seus olhos, no cheiro ainda que insuspeito, nas minhas palavras cheias de contradição e certezas mancas. Foi lá, dentro de você que eu surgi em devaneio real, perfeitamente atinada aos seus meandros, aos seus escândalos e contenções. Eu ficarei sempre lá, dentro de você do jeito meu que na realidade é seu.

Sombra

Ninguém está livre da sua própria sombra; indiscreta ela se põe em qualquer ritmo que seja; pára, anda, corre, freia,desatina; é tal e qual, de limites precisos e repleta de si mesma numa fusão irrefreável; esse duplo que nos chama atenção para os múltiplos de nós em nós.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Destinos provisórios

Há tempos ela questionava o porquê dos seus interesses tão variados, possivelmente divergentes. Tomava-a uma angústia irreprimível de passar por tantos lugares em tempos diminutos, como o da hora e o do dia. No ano então, perdia-se completamente sob o constrangimento da memória perdida, das palavras, dos nomes, das cores, dos sons e dos cheiros; tantos eram os caminhos de destinos provisórios. Sim, eram provisórios porque se metiam a entrar uns pelos outros em forma de fronteira eterna; da mesma forma que se encontravam e se identificavam, sumiam-se os destinos e se faziam pontos de largada, recomeços incessantes.

domingo, 22 de fevereiro de 2015

um olhar daqueles dias

...a gente vai embora mesmo querendo ficar, escapa do olhar mesmo na ânsia de permanecer; tudo pode mudar na silueta do entardecer dos olhos que se olham na penumbra do cotidiano, no inusitado do encontro improvável; e ainda que nunca mais se veja, se viu, realmente se viu...

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

....amar....

Amar é tão fácil; custa um cadinho de atenção na veia que salta por sobre a mão; Amar é tão fácil; custa só espremer olhos na intenção de fazer esferas de toda cor; Amar é tão fácil; novelo na pata do gato a escorrer escadarias até chegar lugar aconchego; cambalhotas no ar; Amar é tão fácil; de tão fácil cabe em cadinhos, em poucos cadinhos de intenção, cadinhos de atenção...

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Fantasma

A vida tem infinitudes até para o finito. Tem presenças, fantasmas e ausências. Algumas ausências mortas, outras vivas. Às vezes a chuva de fora concorda com a chuva de dentro; severamente copiosa a sonhar com um abrandamento qualquer cheirando a terra molhada e da cor de planta; verde de esperar a chuva passar e vir o sol, a chuva cair tempestade e acalmar o céu.

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Controle e palavra

O controle social se alicerça basicamente sobre duas condições: a existência das leis formais e informais. Além da norma contratual ou tácita, há o desejo que escapa às nomenclaturas. Mas o homem como ser de palavra, afasta-se do desejo irracional, prende - se aos nomes das coisas e vira coisa, categoria. Aí se encontra e se perde.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Escorre

É tanta água desperdiçada na calha; pinga grosso e corre desenfreada, desperdiçada na calha, no asfalto, na latrina fora do mato; é tanta água desperdiçada na falha da área de cimento baço, espessura inorgânica, rochas da modernidade eremita; é tanta água desperdiçada que não se sabe onde está; vai longe a água desperdiçada na calha; vai cega na superfície, na supressão da ordem fluida que a submete; é tanta água desperdiçada na calha, canalha calha impermeável; e a água corre pro destino obtuso, alheio a sua vocação de caminhar brincando, e parar, e entrar, e sair, e calhar de ficar.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

...

Sonhara sim em ser poeta, em encontrar as palavras honestas paras as visões tempestuosas do dia a dia; Sonhara sim em ser poeta, aberta feito vaso de flores, cores, cheiros, estames e anteras; Sonhara sim, não por fetiche de escritor intelectual, para fazer livro em mão de editor pra constar nome e sobrenome no papel da memória da história; Sonhara sim de olhos abertos com as palavras de surpresa, exatas, achadas no fundo abismal das expectativas gramaticais, morfológicas e ortográficas; Sonhara sim em ser poeta, trágica, posta ali pra receber letras desconexas a fiar texto de rede desacertada como a vida.

sábado, 10 de janeiro de 2015

Grandes e 'pequenas'

Enquanto vicejam as grandes tragédias, aquelas reconhecidas como símbolos de comportamentos abomináveis, as pequenas também seguem, em cada casa, em cada vizinhança; as vidas que morrem por desatenção, que adoecem por negação do outro e afirmação de si mesmo. Nesses instantes também vicejam perguntas, dúvidas que se eternizam pela mesma dúvida sobre aquilo que poderia ter sido e não foi.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

o que a gente quer

Vida vem, vida vai, e o que a gente quer é só um sonho compartilhado, um cuidado sem aviso, um quintal acolhedor cheio de brinquedos mágicos, saltitos e piruetas felinas em forma de luta sem intenção de lutar; e no final disso tudo um sono tranquilo.