terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Escorre

É tanta água desperdiçada na calha; pinga grosso e corre desenfreada, desperdiçada na calha, no asfalto, na latrina fora do mato; é tanta água desperdiçada na falha da área de cimento baço, espessura inorgânica, rochas da modernidade eremita; é tanta água desperdiçada que não se sabe onde está; vai longe a água desperdiçada na calha; vai cega na superfície, na supressão da ordem fluida que a submete; é tanta água desperdiçada na calha, canalha calha impermeável; e a água corre pro destino obtuso, alheio a sua vocação de caminhar brincando, e parar, e entrar, e sair, e calhar de ficar.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

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Sonhara sim em ser poeta, em encontrar as palavras honestas paras as visões tempestuosas do dia a dia; Sonhara sim em ser poeta, aberta feito vaso de flores, cores, cheiros, estames e anteras; Sonhara sim, não por fetiche de escritor intelectual, para fazer livro em mão de editor pra constar nome e sobrenome no papel da memória da história; Sonhara sim de olhos abertos com as palavras de surpresa, exatas, achadas no fundo abismal das expectativas gramaticais, morfológicas e ortográficas; Sonhara sim em ser poeta, trágica, posta ali pra receber letras desconexas a fiar texto de rede desacertada como a vida.

sábado, 10 de janeiro de 2015

Grandes e 'pequenas'

Enquanto vicejam as grandes tragédias, aquelas reconhecidas como símbolos de comportamentos abomináveis, as pequenas também seguem, em cada casa, em cada vizinhança; as vidas que morrem por desatenção, que adoecem por negação do outro e afirmação de si mesmo. Nesses instantes também vicejam perguntas, dúvidas que se eternizam pela mesma dúvida sobre aquilo que poderia ter sido e não foi.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

o que a gente quer

Vida vem, vida vai, e o que a gente quer é só um sonho compartilhado, um cuidado sem aviso, um quintal acolhedor cheio de brinquedos mágicos, saltitos e piruetas felinas em forma de luta sem intenção de lutar; e no final disso tudo um sono tranquilo.