quarta-feira, 17 de junho de 2015

Pseudo fantasmas

Não sabia o que fazer com a inteligência tão aguçada daquele fantasma. Daqueles fantasmas vivos pseudos; tantas expressões em multidões de contrapesos e paradoxos imutáveis e cambiantes. Diziam que era Pessoa; outros, que era Fernando. A unir os dois, Fernando e Pessoa, estranhava o Fernando, posto vê-lo muito mais como Pessoa. Quantas fantasmagorias líricas; quantos realismos torpes revelam as pessoas. Mas foi Pessoa a dizer dos não ditos e por isso ditos que se desdizem a todo instante; fantasmas.

terça-feira, 16 de junho de 2015

Oquidão

Já ouvistes falar em oquidão?! Sim, é um fenômeno mais ou menos conhecido, mas que gera certa confusão. A oquidão nasce do esforço exagerado de encontrar palavras. O excesso de ênfase nas palavras dá rouquidão. Mas a aventura de encontrar o não dito dá oquidão, retumba e não sai, não há ressonância. Depois de instalada a oquidão, esse oco sem expressão, resta apenas o gesto.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

ridiculamente humanos

Alguns encontros tem o sabor da fatalidade; poder - se - ia dizer acidentais. Por isso mesmo gozam do privilégio da lembrança insistente, intermitente. São da ordem do desvelamento, afloram o ser ridículo em nós. Teimamos dia após dia em justificar a nós mesmos os inexplicáveis; intempéries. Incidentes ridículos de seres ridiculamente humanos.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

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Curioso como lugares vão morar na gente. É só passar e a cena de passagem ou estada ressurge em névoa densa no tapete da retina. Lugares são como marcadores genéticos; potências patológicas imunológicas de um visto não visto; labirintos encantados de encontro e desencontro.

'o que é a vida'???

A vida às vezes se reduz; parca, rala, enquadrada. Por vezes se amplia; vastidões, espaços largos de linhas que não se fecham. A vida são essas geometrias planas e espaciais; esses ângulos agudos, nervosos, mas aparentemente seguros. Ou esses cantos abertos a se desfazerem em sonho de campos desvairados; círculos alucinados em jogos de escolhas. Um ninho em abandono; topo de árvore sob vento e tempestade. Amplidão e casa. A vida embaraça, abraço e desenlace; linha torta em pontas de setas cegas visionárias. A vida vê e desacredita. A vida imagina e crê.

terça-feira, 9 de junho de 2015

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Porque a compreensão só se da mesmo entre loucuras; entre sanidades são apenas ironias e incompreensões. Pois bem, tente ficar louco e entrar na loucura do outro. Caminharão os dois pra qualquer lugar que seja em perfeita harmonia, nos seus mundos mágicos, sãos de loucura.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Inverno na cidadela

Mortal! Não havia melhor palavra para descrever aqueles domingos de inverno na cidadela. Até o recepcionista da paragem concordara; 'não há palavra mais adequada'. Depois do vinho e da massa quente, um certo rubor interno, acalento de instantes. E os cafés? ! Deveriam decretar expressamente; 'não podem fechar em dias de inverno'. Pois a pena de tê - los fechados era condenar os estrangeiros à total insignificância. Eles mereciam pelo menos a visão reconfortante da fumaça da cozinha e o cheiro do café pra resistirem aos invernos da cidadela.

Intensidades

Não havia líquido vermelho que amenizasse sua tendência a intensidades; vinho indiferente. O médico havia dito nos idos primeiros que não era dor de crescimento aquela dos tornozelos, mas dor de abandono. Então eram intensidades. Ora, e tudo que se sente em demasia, estiramentos e contrações absurdas, não são intensidades?! Sofria intensidades pelos quintais que sobraram vazios de brincadeiras, de saudades dos olhos anuviados de um amor taquicárdico que não se soube, das crenças em ilusões disfarçadas de verdade, das incoerências falhas...sofria de intensidades...