Histórias sempre estão na fronteira; por mais que tentemos acomodá-las elas esbarram no real vivido, ouvido, lembrado; elas esbarram no imaginado, sonhado, criado...por isso evocamos os entrelugares, onde cabem o contraditório, o surpreendente e até o esperado...todos eles permissíveis à intromissão do eu e também à sua ausência, mesmo disfarçada.
quinta-feira, 20 de agosto de 2015
Custa-nos...
Custa-nos amar o silêncio porque o primeiro murmúrio causou encantamento. Descoberta é assim; arrepia e provoca uma compulsão, tudo a se repetir. Aí o homem tentou tanto que conseguiu transformar balbucio em palavra, até que o gesto adormeceu. Por isso, custa muito amar o silêncio, atinar o olhar e aguçar as terminações sensíveis da pele, ouvir o vazio onde tudo se dá em devaneio de completude.
quarta-feira, 19 de agosto de 2015
Se me vives...
Se não morro é porque me vives; de tal maneira me olhas que me redime do instante pra chegar infinito; a palavra em escape da expressão cotidiana é o que vives em mim; faz -me ganhar a luz sob as pálpebras, fechadas e lúcidas; tapa - me os ouvidos dos ruídos todos, nós de gritos. Voa - me porque me vives e não morro.
terça-feira, 18 de agosto de 2015
Gonçalo Tavares
Acho tão límpido o que diz Gonçalo Tavares; 'as pessoas que nos morrem'. É como se viesse uma claridade sobre o tempo em lugar de pura percepção. A morte, então, não é uma estatística ou uma evidência substantiva, embora por vezes a queiramos assim. A morte tem natureza verbal; só é porque está em nós; as nossas pequenas e sucessivas mortes, e os nossos afetos e pessoas que nos morrem. E se nos morrem; deixam - nos a ideia irreprimível da oquidão, porque já não estamos os mesmos; morrem - nos cadentes, facho de luz até escuridão; desenlaces de memórias, pouco a pouco reprimidas no fluxo que segue tão adiante.
Palavras e dias
Somos as palavras e os dias; os dias e as palavras. Estivemos por longos tempos a esquecer os gestos em busca do suposto preenchimento dos dias; palavras nomes a nos sumir. Os dias e as palavras; esconderijos para a angústia do nada, ou seria melancolia a se provocar por essa repetição dias e palavras; tédio de perder o gesto na ilusão de dias e palavras para falar do céu e esquecer do céu nas matérias falsamente inertes.
...
Tantos a falar sobre sobriedade; a exaltar os bem comportados; a consciência profunda lúcida. Ora, como se enganam nessa busca da verdade; mortos vivos que não se permitem o prazer dos ébrios e alucinados. Há que se viver essa curva do sonho e do esquecimento; esse desnudamento; afetar os instantes.
Noites tontas
Ah...quanta lucidez em noites tontas; quantas percepções em olhos fechados, e se abertos quantas visões pictóricas; quadros perfeitamente alinhados em emoção, os registros mais sólidos da memória; noites tontas...
Assinar:
Postagens (Atom)