terça-feira, 29 de setembro de 2015

Pra começar

Pra começar é só dizer palavra bem dita; calar as vozes em desacerto com o desejo; desnudar o nu decorativo que embrulha pensamento e desfaz a verdade; Pra começar tem que ser bem dito pra ser ouvido sem ecos duvidosos; há que ser repetido sem enfado, mas por amado dizer, por certo querer dizer; Pra começar é sempre vontade de bem querer no bem dizer; Pra começar bendita seja palavra que sabe plantar o certo incerto de cada dia em acalento; Pra começar é só bem dizer.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

...

Tudo o que se quer da vida são os vazios e dúvidas compartilhados. Pode-se até fingir conclusões, assertivas momentâneas, mas o barato é dissolver conclusões e cair no vácuo, ser sugado pra infinitudes, desabenças, sentimentalidades, presenças parcas de racionalidades, encontros de natureza, sortilégios, privilégios acidentais.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Reto toda vida...

Esse jeito de dizer as coisas, esse bem de Minas, rende um tanto de pensamento. É uma forma de dizer pra economizar que acaba beirando infinito. "Olha, você vai reto toda vida", orientou cuidadoso o mineiro ao pedido do que não sabia como chegar. É sempre assim; "vai, vai toda vida, reto, e depois"...O entrave com a realidade é que toda vida é muito tempo. Vai que o desavisado encontra uma reta sem fim e segue? A sorte é que a curva chega; pode demorar mais chega. Mineirices de querer infinito.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Sorridente

Sonhara com a liberdade; era como estar de olhos fechados em beijo bem dado; o destino desconhecido, o ponto de partida irreconhecível; os afetos levava-os consigo; vez por outra assaltava-lhe imagens de museu em cenário de luxo de outrora, mas do lado de fora eram múltiplos banheiros de faces expostas, e um lamaçal sorridente, tanto que se deitava sobre ele junto com os outros animais, brincava, corria, amava sem pudores, poetava; e nada fazia falta, sobrava.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

...

Era de pouca fé, mas carregava toda fé do mundo; insistia na poesia em tudo que a circundava; a despeito das atrocidades se lamentava pela ausência de licença poética; é que alguns não se permitiam ver a poesia explícita ou latente; sim! havia por certo poesia em semente, imaginação adormecida.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Se soubesse

Se tudo soubesse dessa matéria do viver; Se custasse uma vida aprender; apreender essa ode; Bastaria todos os lados em definição, finitude; Ah! Nem precisaria de mais saber em dado ponto concluso; Se soubesse gastaria menos peripécias, menos tentativas, menos evasões e encontros em desacerto; E por não saber fica assim emaranhado no caos, sem medida certa que medir, com ímpetos de conseguir ou naufragar; O se soubesse pesa desfeito e termina por fazer a mais elevada reverência que é não saber pra saber mais e aprender essa matéria, ora impulso, ora inércia; ora flor, ora ardor, ora amargura, ora candura; Se soubesse dessa matéria do viver, o que saberia?

Como a vida...

A escrita é cria da gente e do outro em nós; ela vem ansiosa pela ponta dos dedos numa conexão misteriosa, vinda de um lugar que urge se expor. É uma sede pelo branco sem margens, geometrias que se expandem e perdem o ar e puxam o ar. A própria vida é mesmo assim; um fazer de pontas de dedos.

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Avesso

É o avesso da vida, entrante, sumido em nós, guardado nos escondidos momentos de afeto, raramente divulgados; o que não se vê por fugidia intensidade, tão transitável que flui, escoa rio; atmosférico a rondar e brincar; que perpassa aquilo que teimamos chamar alegria; é em verdade, o avesso pulso de vida.

normal?

...a normalidade é a ideia mais absurda da humanidade; é por meio dela que se instala a pseudo humanidade, disfarces insistentes de uma lógica distante da natureza. Somos essa perfusão de substâncias endógenas e exógenas que nos submetem aos humores conhecidos e estranhos a nós mesmos.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Intrigância

Intrigava - a todas as formas de afetos. Aos exagerados concedia o perdão da empolgação, mas pensava - os como um torvelinho prestes a se desfazer. Aos escassos , cria - os dementes como uma má - formação congênita, um tipo ou subtipo eterno, calcificado na ausência dos sentidos pouco práticos. Por certo, não havia os afetos plenos de equilíbrio, mas um tipo curioso, respeitoso até na dúvida. Esse poderia se autogerar, retroalimentar-se como um processo fisiológico muito bem acertado com os sentidos pouco práticos e adoráveis. Então, esses eram os afetos menos intrigantes e mais intrigantes, que beiravam a verdade da delicadeza; uma certa justeza no sentir sem esgotamentos e transbordamentos fatais.

nu

A única forma de viver é estar nu; todas carnes, ossos e sangue à mostra, vestes compreensíveis da vergonha e devassidão; por que te vestes e te iludes? Viras retalhos em super exposição; aí é que te olham pra ver se encontram algum espírito; agora nu, estás repleto em suas partes inseparáveis; falam cada uma delas a esquecerem - se das outras, lindamente desavergonhadas, límpidas como um suspiro , vento na vela do barco, amplidão.