quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

O gosto da solidão

A ausência de lembranças tem o sabor exato da solidão. E mesmo no mundo da lembrança tem buracos, fendas profundas que remetem a um sentimento de sabor acre ou de dissabor. Mas a solidão pode ser adocicada quando se está em paz, sem angústias ou expectativas. Ainda assim, a sensação é fronteiriça, nem contentamento, nem descontentamento. Talvez a palavra tenha jeito de aumentativo porque o sentir é grande em forma de ão, talvez tenha jeito de objeto sólido que excede porque é preciso atingir sua exata materialidade, escapar do sentir abstrato incompreensível de um para o outro. Solidão é par de incompreensão, solidão no amor, solidão na dor, solidão na euforia, solidão no gozo, solidão na tristeza, solidão na indiferença, solidão na diferença...Solidão é no coração, nasce, vira embrião e anfitrião, porque só nela percebe-se o de si para si, porque solidão é lembrança de ser não...ou se ser só sensação...

Ganhei o ponto

Hoje o ponto mudou de ponto,
Não tinha ponto,
Mas barracas em fileira,
Frutas, legumes, verduras e biscoitos em profusão,
Delícias...
Precisei mudar de ponto;
Perdi o ponto,
Que se desfez em linha,
De infinitos pontos...
Aquele ponto se perdeu de mim,
Mas ficou-me os gostos da expectativa;
Deletei a curva do ponto,
Fui na reta mesmo
Em busca de outro ponto;
Lastimei a perda da rotina,
Agradeci a perda do ponto,
Ganhei outro ponto,
Pude sonhar outros pontos...