segunda-feira, 9 de maio de 2022

Trash 'árido movie'

Família é um trem danado. A minha é mais ainda; tem vários lados. Tem um lado que eu estava com muitas saudades. O lado trash, não ‘trash metal’. Explicando-me melhor sem querer explicar coisa alguma, diria que é um jeito trash de ser, com peso, intensidade. A facção dos Siqueira, ontem estava em festa, claro não deixam de ser Alves. Eu sou Costa e tenho Silva também, poderia ser Alves. Fiquei Costa com raízes Alves. Sobrinha e prima dos Siqueira. Quantas histórias. Algum, muito tempo na verdade sem vê-los e curtir. Sim, eles curtem horrores e não dá para não entrar na festa. A rainha aniversariando, dia das mães e forró. Muito forró, estilo ‘árido movie’. Que viagem e vertigem. Poucos fazem festa como eles, com direito a banda estilo Calcinha Preta, Aviões do Forró, Mastruz com leite... além dos clássicos de Alceu Valença. Poxa, lembrei da culinária: doce de buriti, creme de bacuri e cuscuz...vertigens também! É, a existência deles é abismal, muito trash!

quinta-feira, 5 de maio de 2022

DEFINIÇÃO

Nada nos define mais que nosso nascimento e nossa morte; dois pontos exatos, fatais e inevitáveis; um porque já foi, o outro porque é certo. Por onde começa e termina a linha reta ou curva dos caminhos, angústias, desejos e alegrias.

quarta-feira, 4 de maio de 2022

A escultura de Rodin

A ninfa sonhara com um ser de chifres, pra lá de endiabrado. Era cortante, atravessava o vento e os espaços dos corpos, preenchia falhas num gesto de terror e gozo. Os olhos rubros tencionavam faiscar, mira e dardo. A pele alva desafiava qualquer escuridão. Diabólico, perdia as pernas, ganhava patas e cascos, galopava com o riso solto, pã a flautear sedutor. Voltava toda noite branca, em que dia e noite se confundiam. A hora era incerta. A ninfa tinha terror, fitava os gestos dele e se desmanchava no ar. Ela era o próprio ar. Voava pelas noites brancas temendo o susto diabólico dele. Um dia ninfa descansava asas quando ele chegou. Exausta de tantos voos, fugas e brincadeiras, não recuou. Endiabrado atravessou o corpo dela espantado. Desmanchou. A ninfa tonteou e chorou. Desejou as diabices dele. Então, diabólico ressurgiu e os dois se fundiram, lâmina e sangue, rio vermelho. Ninfa começou a se transformar, tudo nela se avolumava; peitos, lábios e pernas. Pandemoniados estavam, furiosos, extasiados. Transformada, ninfa começou a congelar. Agora era Súcubo, uma escultura, linda e petrificada.

quarta-feira, 31 de maio de 2017

cidadela

Mortal! Não havia melhor palavra para descrever aqueles domingos de inverno na cidadela. Até o recepcionista da paragem concordara; 'não há palavra mais adequada'. Depois do vinho e da massa quente, um certo rubor interno, acalento de instantes. E os cafés? ! Deveriam decretar expressamente; 'não podem fechar em dias de inverno'. Pois a pena de tê - los fechados era condenar os estrangeiros à total insignificância. Eles mereciam pelo menos a visão reconfortante da fumaça da cozinha e o cheiro do café pra resistirem aos invernos da cidadela.

terça-feira, 30 de maio de 2017

Amor

Por incerto que fosse, sabia e dessabia da palavra amor...Por isso, achava que amava imenso, muito além da palavra. ..Era o céu e as pontas de árvores feito pássaros. ..tudo era mutável. ..cada hora numa visão de olhos em arrebol. ..Pra ela amor era assim; a surpresa do arrebol...

quinta-feira, 18 de maio de 2017

?

Nunca soubera diferenciar muito bem os animais humanos racionais dos outros ditos irracionais. Simplesmente porque achava os ditos irracionais sempre coerentes com seus anseios e deliberadamente sinceros. Por vezes via esses ditos racionais em turba a manifestar a mais pura selvageria; idolatram deuses, dinheiro, poder ou qualquer objeto que se lhes dê prazer. Os outros irracionais são o próprio prazer, são indivisos com a natureza e absolutamente personificados. Quem são os racionais?!

Escarlate

Sonhara com uma névoa escarlate, morna a flutuar em seu entorno, corpo. Uma ambiência quase sonora a beirar silêncio, medrosa de importunar o enlace suave, toque de nuvem. A névoa carregava, embalava, faiscava sem incendiar; vela cumprindo pedido. Era como uma oração sinuosa, um rito pagão santificado, exorcismos de sentir; a névoa morna; abraço escarlate.

gente

A gente é coisa que não se entende mesmo; a gente se sente, não se entende; e a gente que se sente, sente parte, um naco no aparato incerto de ser; porque gente é toda gente, é seres; e a gente é só uma gente nesse mar de gente que se sente.

Pessoas e coisas

A pensar sobre pessoas e coisas; esses dois entes distantes e tão próximos porque intercambiáveis. Pois que é tão comum coisificar pessoas e personificar objetos. Ora veja, o objeto que tem história; até mesmo um carro, símbolo mais alto da indústria do consumo pode carregar em si a lembrança de viagens ou mesmo a ternura das paisagens. E das pessoas que as contemplaram.Pode guardar ainda a repetição do cotidiano, essa realidade que nos consome, e que nos constrói de certa forma. Há ainda aqueles objetos parcos de histórias, mas que vieram de uma mão amiga, ou que guardam apenas uma história, uma lembrança eterna na memória; um livro de história ou um pequeno objeto de afeto. Agora o tudo coisificado, usado e desfixado da memória é de uma brutalidade sem medida.É condenar o ser humano e o objeto carente de história à morte de não ser. É a própria incapacidade do homem de se auto gerar e se fixar como matéria de poesia, a única fonte próxima do sentido mais encantador e desafiador da vida. É nos guardados de memória, é nos pequenos museus de cada um; mesmo com suas traças e poeiras, que está o homem ser e seus objetos personificados.

...

Há que se resistir aos pavores da distância para se encantar com os prazeres da proximidade; há que se resistir e submergir em rio negro e fundo para reaparecer em nudez; há que se dizer infinidades de silêncios e fazer zumbido de ventania em ouvidos surdos de linguagem desdita para acalentar a palavra amor; há talvez que amar para fazer dança de pálpebras em olhos de brilho sol, de onda mar; amar e ir e voltar constante na repetição ressabiada, loucura de repetir em potência sem fim de descoberta; vai e vem de ave no ar e o pouso sonho esquecido e lembrado; há que se misturar esses mistérios revividos a exaustão; há que se desejar amar como sem saber e saber sem sentidos lógicos; há apenas que sentir, deixar anuviar e clarear, clarear e anuviar as íris retintas; quadros de paisagem aconchego, colo lar, amar nunca caberá; há que se mergulhar para amar.

Mundos distantes da realidade

...antes que enlouqueça, antes que pesadelos tomem conta da sua mente e do seu corpo, saia por aí sem rumo que seja, vá passear em mundos distantes do sonho e da realidade; somos expansão e o abismo do buraco negro; somos o que não sabemos, embora queiram essas identidades parcas e bem delimitadas encerradas em nós...e nós enterrados, abismados e abismais...

Fatalidade

Estivera a pensar meio 'rosianamente' sobre a fatalidade da vida. Por mais que se esgueirasse estava lá a fatalidade. É que fatalidade não é acidente mesmo, é como coisa agendada, anunciada, mesmo com atraso no tempo. É o fatal rosiano, róseo, inflamado até irem-se as pétalas...Bom era que depois de todo fatal vinha um vento presságio, como uma sabedoria de perceber esse fatal; fatal bom ou ruim; perceber nas entrelinhas do dia a dia a poesia da realidade e a mera ficção. Sim, era isso; pressentir os personagens inventados pra esconder o fatal. De qualquer forma, era assim em agonia que ficara, ainda que descrente a pedir ao alheio divino 'jesus amado' uma proteção pra prever a fatalidade.

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O controle social se alicerça basicamente sobre duas condições: a existência das leis formais e informais. Além da norma contratual ou tácita há o desejo que escapa às nomenclaturas. Mas o homem como ser de palavra, afasta-se do desejo irracional, prende - se aos nomes das coisas e vira coisa, categoria. Aí se encontra e se perde.

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O que aconteceu com a psicodelia? Que elixir de loucura sã tomaram os psicodélicos? Tantos que foram nesses mares de sonhos, e hoje só cabines de navios, nada de velas...

Danação

A gente estava falando de música, e enquanto a música tocava, de xote baião, veio raul, chico e a menina da pele preta de olhos azuis. A gente pensava em fazer música, mas ela já estava ali, pés sincopados, do ritmo querendo encontrar poesia a flertar com a melodia.Ela estava em todo lugar, já feita a danada da música, uma danação de todo lugar, trilha em ação...ela já estava em todo lugar, trilha em ação, uma danação....

Especulações de Eduardo Coutinho

Pois que deus não é mesmo o homem que morreu?! Disse a menina ; e rezava o pai nosso início, meio e fim conforme todos nós; todos a rezar pelo homem que foi lá pro céu, como diz a oração; vivemos mesmo é de dizer, de desdizer também...agora o dito redito fica tão mais dito, desmedido, ladainhas de viver e conviver...