quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Gavetas



'Girafas em Fogo' (Salvador Dali)

Essa imagem sempre me inspira...mas depois de algum tempo foi o nome a causa de tanta intriga em mim...o nome do quadro no plano de fundo da imagem...a personagem no foco desfocada do nome...sem nome...mas ali tão imponente e frágil, o primeiro plano...e esses compartimentos vazios a dilacerar a carne...

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Sem saída

Não lembrava a ela ter vivido um momento em que sua sobrevivência fora tão ameaçada, um momento em que houvesse tanta fragilidade e inconstância diante de tudo, do outro e de si mesma. Era o lugar do próprio labirinto de si, e a fera ameaçadora não tinha formas híbridas, o minotauro, 'parte homem e parte touro' , senão uma sombra que se adensava e escapava, também uma aberração. Diziam a ela que era um período de crise, dessas vertigens produtivas que provocam mudanças de atitudes, embaraços e acertos. Pessoas, certamente positivas, pelo menos no discurso. Mas ela tinha por dentro desde que nascera apenas uma pálida solidez, uma ‘solidez a se desmanchar no ar’, um esvaecer dos sentidos, como se a própria sombra a rondar fosse ela mesma, inconsistente pelos caminhos, a desviar sempre sem destino, num afastamento do lugar de encontro; ânsia de encontrar, dor de desencontrar. Estava encurralada pela expectativa daquilo que sequer precisava, compreendia. Não tinha identidade, não percorrera lugares em escalas pertinentes, a que chamavam avançar; simplesmente caminhara sem rumo e fora acumulando não lugares sem sincronia uns com os outros, meros fragmentos. Abandonara possibilidades; em realidade tinha aversão delas, posto que as compreendia muito mais como impossíveis. Amigos e familiares a rodearam de atenção e perspectivas, crentes de sua força, dessa imanência que atribuem a todo ser. Porém, nela o imanente se desfazia antes da ação, pois que se colocava em dúvida permanente, e sempre entre dois propósitos com os quais não simpatizava tanto assim, até que procurava um terceiro, e mais outro, até o significado sublimar, esse desmanche de mágica da química; sublimação, naftalina. Ela era a própria sublimação, mas não guardava em si nada de divino, sublime, de luz; era apenas um pedaço de carne emburrecido, embrutecido, melancólico e, por vezes, afetado de alegria, enlouquecido. Uma louca a fazer análises sucessivas de si, sem alcance qualquer, e tantos alcances às vezes, que a lógica explicativa se perdia. Essa incompreensão de si para si causava no outro um desatino a virar desafeto, e ninguém mais queria se aproximar dela sob pena de também se perder. Então, ela ficava só, a pensar sobre os caminhos e lugares em que nunca estaria.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Nebulosas

Quando vira a floresta pela primeira vez rondava uma certa nebulosa à frente de seus olhos, como se fosse realidade e sonho imbricados, inevitavelmente unidos naquela noite. Era uma noite suspeita. De início não deixava ver estrelas. O chão de grama estava úmido da chuva ao toque de seus pés parcialmente nus. Ia ao encontro de alguém, onde um aglomerado de pessoas em burburinhos se formara, ao som de música, no balanço alguns corpos, enquanto o céu aos poucos se abria em estrelas. Enquanto isso, a floresta ia adiante, na calmaria.

Não se lembrava bem da lua naquele dia, mas certamente ela aparecera, ainda que discreta, pois que no caminho da floresta os contornos dos troncos e galhos das árvores eram perceptíveis, embora, por vezes, se confundissem com a cor da noite. Umas mãos a guiavam, as mesmas que a acomodaram naquele pedaço de tronco, que mais se parecia um barco em espera. Muitos, certamente já teriam se sentando ali a silenciar, a conversar, a se tocar.

As mãos que a guiaram disseram que o lugar era de seu agrado, porque era tranqüilo e levava a outro lugar que lhe inspirava. ‘Nunca levara ninguém até ali’, aquelas mãos lhe confessaram. Ela sentira aquela afirmação como um segredo. Não foi longa a visita, apenas o suficiente para que ela guardasse na memória. Eram as mãos que mais lhe valeram naqueles instantes de nebulosa, e também os olhos das mãos, porque o lugar seria para ela um tanto inóspito, e quem sabe jamais visitado com pouca claridade.

Ela voltara àquelas imediações da floresta depois de algum tempo à luz do dia. Não fora com o intuito de vê-la, mas ao finalizar seus propósitos naquele dia, resolveu retornar, reconhecer aquele lugar tão próximo que nunca avistara e que finalmente alguém a apresentara. Custou um pouco a reconhecer a entrada, o caminho, intimidou-se com supostos olhares, mas o encontrou sem pergunta alguma a qualquer um que fosse.

Estranhou que a floresta encantada fosse meio rala, de árvores menos numerosas. O noturno havia lhe concedido uma atmosfera mais densa, um silêncio de esconderijo. Mas ali na claridade a floresta não provocara desencanto, apenas lhe mostrara sua outra face. Naquele dia em que fora apresentada a ela, ficara pelo meio do caminho. Desta vez resolveu ir mais adiante, até o princípio de qualquer fim.

Seguiu lentamente pelo passeiozinho calçado, e não pôde avistar com clareza todos os detalhes. Redimiu-se da tentativa, desculpou-se pela nebulosa do outro dia. Avistou uma moça fardada vindo em sua direção e ficou meio receosa por ser o caminho bastante ermo, porém, não houve qualquer olhar de reprimenda ou curiosidade para ela. Continuou seguindo, até que o som invadiu seus ouvidos. Embora parcialmente misturados, foi possível perceber com nitidez a quase exata localização de onde vinham.

Os sons ressoavam de um prédio dividido em duas metades; de um lado, um instrumento de sopro a entoar uma música um tanto melancólica, de outro, a música de um piano, esta mais incisiva, forte, com ritmo mais rápido. Foi uma nítida sensação de entrelugar. Mas fora também o princípio do fim, pois que chegara ao fim daquele caminho guiada por uma lembrança, que neste dia veio-lhe muito imponente. O sentimento da especialidade daquelas mãos a guiá-la pelo caminho escuro, que finalmente daria em um lugar de sonoridade tão variada a provocar tantas sensações.

Ela percebera que a nebulosa eram aquelas mãos que a guiavam; porque elas existiam é que sua visão não se mirou no detalhe, não se potencializou na escuridão, e o momento era de criação, caótico. E essa segunda visão fora de magia diversa, de encanto em potência, posto que de descoberta autônoma e de retomada, de uma prévia visão, que dizia; ‘preste atenção a esse lugar, ele leva a outro lugar, sinta o encantamento desse lugar, desse lugar que se faz no nosso existir’...

Outras nebulosas viriam, as necessárias que fossem, mas aquele momento de nebulosa que vivera, sua explosão em estrelas, era absolutamente original ainda que aparentemente ordinário. Ela constatara que sempre surgiriam novas criações, incontáveis constelações no céu e na alma, e que os olhos nus seriam sempre frágeis, débeis para perceber tamanha grandiosidade...Era preciso estar atento às nebulosas, senti-las; era preciso estar muito atento, pois elas eram a própria alegria.

Lagartos 7

Pensava Liria: “E se pudéssemos nos metamorfosear em lagarto?”

Lagartos 6

Uma lagartixa emoldurada naquele espelho de banheiro. Sim, um quadro vivo, de contornos precisos, a cauda enrolada como um arabesco, como uma pose, ou simplesmente um descuido do parar em estética surpreendente. Liria estava ali deitada naquele aparelho em forma de cama e já ouvira muitos a comentarem daquela forma ali grudada, adesivada. O que aquele ser esperava? A penumbra da sala para especular o lugar, alimentar-se, viver?

Liria e a mãe há algum tempo freqüentavam aquela sala, onde recebiam puxões restauradores de molas e braços, onde mãos as ajudavam a reconhecer o toque, cada superfície desconhecida do próprio corpo, do anestesiado corpo de todo dia, alijado pelos pensamentos inconfessos e confessos. E porque ali estaria aquela imagem recorrente? Aquele lacertídio prestes a fugir, mas que nesse instante era estanque, como a mover só pensamento? Que convivência dura aquela com os humanos, que faziam aquele ser converter-se em mera figuração sem, contudo, ser camaleão?

Quereria ela, certamente, ser camaleão, mas quaisquer olhos que lhe vissem reconheceriam seu disfarce. Entretanto, volviam seu olhar com admiração e perguntas, quase como a vê-la como humanizada, com intenções bem conformadas. Fosse um lagarto menos doméstico, não seria tão bem vista por todos, sequer admirada. Um atrapalhado fujão, assim seria.

Era esse contraponto entre o doméstico e o selvagem que admirava e afrontava Liria. Essa contaminação do humano na lagartixa, essas fugas menos prementes, essas estratégias comoventes por puro engano, como se ela finalmente não estivesse ali, fosse tão somente um desenho no espelho, como muitos humanos, sem qualquer profundidade em relação ao outro, tamanha a aderência do corpo sobre sua própria imagem, a ver somente e só a si mesmos, sempre nesse espelhamento a farejar o de si no outro?

sábado, 22 de janeiro de 2011

Lagartos 5

A visão daquela lagartixa ali esmagada no portão, rodeada de formigas de traseiro cor de ouro foi um tormento para elas. ‘Que dó’, lamentou a mãe de Liria. Primeiro espremida sem ninguém que a avistasse, depois comida lentamente por aqueles insetos carnívoros. Que sina mais triste, morrer assim num fechar de porta, num trancar displicente. E toda morte não é mesmo um fechar de portas e não se dá de susto, por acidente, muitas vezes?

Elas também poderiam ir desse mundo nesse piscar de olhos. Agora pior que piscar e não ver mais seria olhar e não ver. Não ver mais os lagartos em suas fugas vertiginosas. E nesse não ver definitivo, serem carcomidas por quaisquer insetos ou organismos microscópicos sem qualquer salvação.

As lagartixas sempre foram bem vindas naquela casa, sobretudo, é claro, por seu adorável gosto por baratas; um inseticida natural e ágil. Além disso, esses pequenos lacertídeos lembravam a elas réplicas diminutas e delicadas de répteis pré-históricos, quase míticos a vagar por florestas distantes. Só que estranhamente vieram conviver nas casas. Em que momento teria se dado esse movimento lacertídeo para um ambiente tão hostil, em que portas e trancas podem os esmagar quase sem chance de fuga?

Elas se sentiam assim; sem chance de fuga. Esmagadas e rodeadas por formigas famintas a roer suas idéias e sonhos simples, seus olhares deslocados na multidão. Talvez outros também se sentissem assim e vagassem por pensamentos inconclusos, por terras desconhecidas, alienígenas. Por isso, os lagartos as encantavam, e as lagartixas, em habitat tão antinatural, intrigavam-nas.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Lagartos 4

Os lagartos em fuga, um desejo profundo em Liria. Eles pareciam a ela nunca contingentes, obrigatórios. Sua permanência nos lugares era fugaz, eles não se demoravam e raramente deixavam rastros. Pareciam uma névoa que passou. E Liria queria esse passar que passou; queria mais; queria que tudo passasse sem deixar marcas, um mundo dela imemorial. O sofrimento apagado, a lembrança feliz não interrogada, só o porvir sem planos, acidental.

Parecia a ela que lagartos estavam no entrelugar, porque nem rastejavam propriamente, nem voavam. E podiam botar ovos e ainda tê-los, os filhotes, já prontos. E não se apegavam às crias. Criavam-se sozinhos, e talvez, por isso, não faziam morada, não assentavam em lugar qualquer, somente iam. De fato, não eram animais disponíveis à domesticação, embora fosse possível criá-los em cativeiro. Agora, querer afagá-los com carinhos e conversas, quase improvável. Mas a mãe de Liria cria nessa possibilidade, pensava somente que o afeto era rejeitado por falta de tato, a gentileza ideal no momento certo, uma abordagem lenta e permanente a cada dia.

Fosse o mundo cruel o tanto que fosse, se o espírito do lagarto grudasse em gente, não haveria sofrer, perder, regressar. Era isso que encantava Liria, esse inevitável existir assim, um lagarto que chega e vai veloz pelos muros, a criar novas divisas, a indivisar-se por estar apenas ali e em nenhum outro lugar do pensamento, sem deslumbramentos, senão o tiro certeiro, a língua bumerangue na direção do alimento.

Absolutamente naturais, sem razão que se considerar, os largartos apareciam para Liria e sua mãe como a adensar o fosso de seus sentimentos, de seus tormentos diante do oposto cheio de nada, de uma vida sem considerações razoáveis, apenas o movimento de viver, nascer, se proteger, fugir, comer, reproduzir. E então, pensavam elas que isso era o verdadeiro encanto, e que apareciam assim nos caminhos, nas encruzilhadas de suas mentes para dizer exatamente da necessidade de retomar esse natural perdido, acometido da moléstia do julgo, pura artificialidade.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Lagartos 3

Liria como a mãe não vivenciara o afeto paterno desde o início, mas teria a mãe sempre próxima. As duas seguramente não viram os lagartos no começo, mas tiveram visão reveladora tempos depois.

Em certo tempo de suas vidas apareceram vários lagartos no quintal, já em cidade longíncua dos tempos do sertão, dos tempos da vila. Elas descobriram que os lagartos estavam em todos os lugares, e sempre naquele andar vertiginoso de fuga.

Nos fundos da casa resolveram fazer morada nos buracos do canteiro. Botavam ovos, e dos ovos pequeninos nasciam diminutos lagartos de olhos gigantes, como desnutridos do sertão naqueles corpinhos fininhos, frágeis, naquelas barriguinhas protuberantes a mostrar linhas de assombro, sanguíneas e digestivas.

De toda aquela vertigem rastejante, sobrou apenas um lagartinho no ninho, ao lado do ovinho quebrado. A mãe de Liria quis criar o pequenino mágico saído do ovo; tentou alimentar com comida e afeto, mas ele insistia repetidas vezes na fuga pelo corredor em direção à rua. Um dia ele conseguiu e foi dar no jardim sem que nada elas pudessem fazer. No dia seguinte estava lá ressecado, rodeado de formigas famintas.

Liria achava que essa fixação da mãe em criar um lagarto era a lembrança do ovo da infância, ainda que só lembrasse por alguém contar. Algumas histórias eram como sombras, passados eternizados, e viriam em sonho e vida com diversos disfarces, faces.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Lagartos 2

Antes da vila foram outras cidadelas e sua mãe, suas origens mais remotas do sertão, dos lagartos camaleões, rápidos no movimento dos membros e das cores, bem mais espertos que os lagartos do tempo de Liria. Sua mãe dizia que eram muitos e que a carne era tenra e saborosa. E naquelas terras onde a carne era escassa, o lagarto fazia a festa no almoço matutino e vespertino. Era comum almoçar ao levantar feijão com milho e vez por outra um pedaço de carne, de passarinho morto a estilingue, de lagarto morto a tiro e raramente alguma criação.

O ovo também era fonte de proteína e energia importantes, mas não eram muitas as aves chocadeiras, e muitas eram as pessoas carentes do alimento, as cozinheiras a fazer bolos. Assim, sua mãe se punha a vigiar o descenso do ovo, aquele parto maravilhoso que lhe dava água na boca. Por vezes, vasculhava os ninhos, e saía feliz com o ovo nas mãos, como se sua sobrevivência e alegria estivesse ali naquela esfera mágica.

Tal qual Liria não se lembrava dos lagartos no começo do seu tempo, sua mãe não se lembrava de sua própria mãe, a avó, senão por uma pequena fotografia, em que ela fechava o cenho diante do sol ardente, os braços pendentes e curtinhos apoiados em um vestido de chita a dar nos joelhos. Diziam que sofria dos nervos, teimava em não conseguir andar, e no dia do casamento recusara levar qualquer pessoa na garupa do cavalo, sob pena de amassar o traje. Terminou por levar uma sobrinha, depois de obter a garantia de que a mocinha, em hipótese alguma, seguraria-se nela. Casou-se, mas pouco durou o matrimônio, vítima que foi de um parto difícil e mal curado feito em casa.

A mãe de Liria fora a primeira nascida e já com três anos não havia mãe que lembrar e nem pai, que este abdicou da função. Foi então que toda fuga sem destino começou. Ela retornaria àquelas terras e veria os camaleões nos troncos tortuosos, veria a terra ressecada cheia de falhas, veria as cabras a beber no açude e os moinhos a moer a cana pra dar rapadura e o ‘fininho’, o puxento doce dos dias de moagem. A casa do pai ficava cheia de cortador de cana e o carro de boi fazia aquele som retinente, enquanto os pobres animais alinhados, presos pelo pescoço, por obra do homem, faziam aquele monótono e duro movimento circular. Via tudo enquanto o pai permanecia calado, os olhos inexpressivos naquela mansidão estranha, naquele fugir do afeto paternal.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Lagartos 1

Não que fossem eles os únicos fugitivos, mas Liria sempre se surpreendia com aquele movimento rápido dos lagartos pelo chão, pelos muros; surpreendia-se com a agilidade do arrastar frente a qualquer perigo, verdadeiro ou falso. Isso sempre ocorria a ela; largartos de todos os tamanhos e nuances nem tão distintas pelas ruas que caminhava, pelos muros que margeava, pelas matas que visitava e mesmo nos quintais.

Liria nascera em uma casa que não se lembrava e só vira por fotos de um álbum de infância. O quintal tinha ibiscos vermelhos, assim aparentavam, posto serem as imagens em preto e branco. O lugar tinha terra vermelha, a que o tom de cinza precariamente tentava imitar, embora muito atiçasse a imaginação. A casa também era de pisar em vermelho, daquele vermelhão de concreto tingido, sedento por cera pegajosa, lindo sangue a brilhar por baixo.

Nesse tempo, esse de que ela não se recordava, os lagartos deveriam estar, e talvez Liria corresse atrás deles, ou mesmo se aproximasse enquanto eles fugiam. Liria não se lembra deles naquela vila distante de sua infância primeira, de seu primeiro ano de vida. E foram tumultuados esses instantes, contava sua mãe. As duas migraram para aquela pequena cidade em formação, cidade em busca do encontro ou do desencontro, do povoamento. Fora talvez uma viagem de fuga aquela ida, fuga para encontrar? Ela ainda ia barriga adentro, naquele rio morno, amniótico. E foi com esse ventre repleto que sua mãe navegou também no largo rio de nome também largo, rio do norte.

Por pouco tempo Liria permanecera ali, e nunca mais retornaria. Talvez toda a angústia do seu nascimento estivesse guardada naquele lugar, fincada naquela terra encarnada, naqueles momentos de chegada e largada para o mundo, quando os lagartos ainda não apareciam para ela.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

por vir...porvir...

Estou no exato meio do caminho, fincada no sentimento inquieto do que está por vir. Por enquanto, abstenho-me das minhas e das histórias dos outros que, por vezes, são minhas também, para esperançar e medir as possibilidades do porvir, para agir e ser agida. Que seja de fim ou recomeço, mas que esteja a inaugurar algo findo em recomeço, esquecido dos tempos de nuance de parca cor, de escuro inesperado.Que seja um momento espelhado não de luz intensa cega de ilusão, mas de mansidão da alma e do corpo, de calmaria não isenta dos redemoinhos que se vão, de alegria vivida em plenitude e de tristeza bem motivada.Que seja eu diante do outro e pelo outro, um olhar de admiração sincera, a angústia que não paralisa, mas que ativa contornos de sobriedade e claridade.