quarta-feira, 18 de maio de 2011

Origens vertigens

Por sugestão de Eliéser do http://chuvaperegrina.wordpress.com/!
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Não se lembra certo daquele dia em que saíra sanguinolenta e chorosa por entre as pernas de sua mãe. Não se lembra que lugar de terra gretada e depois vermelha esteve em suas primeiras incursões nesse mundo, a que alguns adjetivam de todos, e que, no entanto, é o mundo de cada um, o mundinho das ‘(im)percepções’. Talvez fosse esse momento de origem o ponto em que tudo se fundou, nas solidões e fraternidades. O ninho quente e aquoso, depois revelado em ar sem fim a forçar os pulmões e o diafragma ainda imaturos. As primeiras sensações desavisadas e os avisos de aprender para sobreviver. E tudo era inóspito se não fosse por essa eterna companhia, a fraterna maternidade. E ainda hoje a pergunta ecoa pela verdadeira fraternidade em uma enormidade de passagens por si e pelo outro. Onde estará essa amiga faminta, fraternidade, que só existe pelo outro e se extingue numa vertigem, num escape de amar?

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Olhos gordos magros

Eram gordos os olhos dele, como a perscrutar algo de nutritivo no olhar dela. Ele buscava um gesto qualquer de acolhimento para aqueles movimentos dela desajustados, de querença e de fuga. Ele não se confundia sobre ela. Esperava com cautela a hora exata em que os olhos dela se enterneceriam, quase num piscar, como se ali ela finalmente sempre estivesse, presa àqueles olhos famintos prestes a se saciar. E esse banquete seria todo o deleite dele, e para ela restaria uma consumição da alma, de todas as energias que ela cuidadosamente havia resguardado, e ele não saberia, não imaginaria aquele deslize premeditado dela, aquele deslize certeiro, para aquele feitiço a que ela havia se entregado, o feitiço dele. Depois da consumição, restariam aqueles olhos magros dele e os dela ganhariam uma fome retumbante de volver aquele olhar de novo pra si como toda a razão de sua existência. E seu olhar pra ele seria sempre obeso, de uma morbidade assustadora e paradoxalmente desnutrida, de querer indizível de pupilas dilatadas em realidade, em sonho, em imaginação.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Perspectivas sobre o processo avaliativo na escola

Podemos considerar que a avaliação dos estudantes na história da educação atual conforma-se muito mais na perspectiva competitiva do mercado de trabalho, tendo em vista uma política cada vez mais exclusivista. Assim, as avaliações constituem-se em mais um dos instrumentos de manutenção do sistema capitalista, com a finalidade de garantir a estabilidade das suas ‘engrenagens’. Contraditoriamente, a escola que deveria estar envolvida com a humanização e a busca da cidadania, afigura-se muito mais como uma instituição a serviço da alimentação e incentivo da fixação dos conhecimentos necessários e, basicamente, operacionais, técnicos, e menos reflexivos, críticos.
A noção de competição, característica das empresas, migrou delas e se firmou em inúmeras instituições. E a escola, que deveria ser um lugar de troca de experiências e saberes, tornou-se um espaço para a obtenção de títulos que garantem a entrada no mercado de trabalho ou ainda um treino para a participação nos vestibulares. Dessa maneira, ‘os melhores’ avaliados são identificados, separados. Quem sabe não serão autônomos e poderão sonhar com uma vida mais digna? A criticidade então vira reserva de poucos, até porque é necessário sobreviver, pagar o preço, consumir. Assim, incentiva-se cada vez mais a educação para o trabalho e não para o exercício da cidadania.
Ora, como podemos conceituar, compreender a avaliação? Bem, podemos considerá-la sob vários aspectos. Contudo, em linhas gerais, podemos e devemos considerá-la como um processo e não apenas como uma ação terminativa, definitiva. No ensino baseado na concepção dialogal, a finitude é somente um ponto de apoio para o reinício de uma nova discussão. Nenhuma questão ou assunto se extingue. A avaliação é um passo para reconhecer, reconsiderar, recomeçar sempre. Não pode ser instrumento de coação e nem de acirramento das diferenças, mas de encontro de experiências e motivação do ensino e do aprendizado.
É fundamental que o conhecimento prévio dos estudantes e a característica de cada um seja observada para se estabelecer um processo racional e idealmente justo. Assim, compreender avaliação como um processo permanente e sensível se faz urgente. Cada dia de aula é dia de avaliar. Deve-se avaliar postura, participação, atitudes. Deve-se ultrapassar os conteúdos, pois que eles não são entes solitários, deslocados da realidade de cada estudante. A percepção de cada indivíduo é que constrói a riqueza do conhecimento, do aprender, posto que nada é absoluto, pois carece sempre e obrigatoriamente de um contexto. Submeter os estudantes aos tradicionais testes que apelam tão e somente à memorização e saberes curriculares, desconsiderando as particularidades e os esforços, é limitar as possibilidades de crescimento dos aprendizes.
O sistema avaliativo integra o processo de aprendizagem, é um instrumento importante para perceber, compreender o aprendiz em sua condição humana, que engloba limitações e possibilidades. Sendo assim, deve ser contínuo, flexível e coerente com a realidade do indivíduo, da escola, da comunidade. O pressuposto essencial da relação de ensino e aprendizagem deve ser o respeito pelo outro, a valorização. E nesta esteira, o processo avaliativo é um componente que pode subsidiar de forma positiva o intercâmbio de vivências, a compreensão de conceitos e processos, a retificação de procedimentos, mas, principalmente, provocar o reconhecimento do estudante de si próprio por meio do outro e de sua realidade, avivar suas habilidades e horizontes.