terça-feira, 9 de novembro de 2010

Mãos

Estranhas mãos essas que não se aquietam
Mãos em ti forçosamente a reconhecer
Mesmo em lembrança
Cada traço, cada mormaço, cada embaraço
Estranhas mãos essas em quietude
Mãos em lembrança de ti, por ti
À espera de decifrar
Cada passo, cada queda, cada enlevo
Estranhas mãos a desejar
Mãos em fogo e remanso
De alternâncias súbitas a percorrer
A delinear suas faces de prazer e angústia
Mãos que não se podem conter
Ainda que por palavras a verter
Sentidos inapreensíveis, sensíveis
Tanto que dizem e não dizem
Tanto que sentem
Mãos apessoadas em seus dedos
Entrelaçadas e fadigadas de tanto conter
Por querer em ti fazer arte do momento
Fazer memoriais instantâneos de permanecer
Mãos incontidas que tanto contém
Feito mente abarrotada
Em registro de pensamento de estarem em ti
Um negativo prestes a se revelar
Mas por fantasma ser
Apenas mãos em oferenda
Em apreensão pelo toque de conhecer
E encanto de desconhecer
Mãos de entranhas
Quase digestivas mãos
De gestos que não bastam
Incompletas mãos
Doloridas mãos
Teimosas mãos de carne crua
Cruas em sentir outras mãos

Um comentário:

André Zagreu disse...

"Por querer em ti fazer arte do momento
Fazer memoriais instantâneos de permanecer".
Keila, gosto muito de sua expressão, de suas multivariedades, possibilidades. Otimo poema.