terça-feira, 30 de novembro de 2010

Temia

Temia que o amor fosse apenas um discurso ou uma afirmação por absoluta teimosia de dizer o que se diz, o que se espera que se diga. O retórico amor, um discurso aparentemente cheio, mas sobretudo persuasivo, bem ao estilo dominador, mas em forma de fragmento, de maneira que palavra não poderia se converter em ação, amor sem amar, puro dizer... Temia que o amor fosse apenas um miasma a rondar os corpos até evaporar sobre poros de pele impermeável, a traduzir toda dureza da alma...Temia ser o encanto um momento qualquer de desatino da percepção, por simples desconhecer e se colocar curioso diante de visão, prestes a migrar em desilusão...E temia mais exatamente por temer tanto esse dizer, relutar no dito o mover da palavra em direção à realidade, posto ser o amor um capricho do dizer, um diálogo a envolver um e outro na tentativa da própria essência do discurso em ação, porque palavra é o confeito da alma, essa mistura que se enche em desatino, embora esteja sempre e sempre só, até vir um alento de ternura, um ouvido atento, um pensamento ainda que distante...Essa palavra amor temida e ousada seria então essa superfície de proteção em torno da dispersão pela própria sobrevivência, um retorno, um ponto de equilíbrio...Por isso temia não dizer, mas ainda que dissesse temia também a indisposição sobre essa palavra amor, esse agir amor...

3 comentários:

Nina Blue disse...

Esse falar do amor e por amor...
Por hoje, só por hoje me basta!Lindo!!!

Paulo disse...

e, por vezes, as palavras estão tão gastas que há que inventar outras novas, mesmo que para falar do mesmo, falar sempre...do amor. Lindo texto.

Mônica disse...

Keilinha, demais da conta este post. Uma expressão qiue descobri portuguesa cabe aqui: farto de tão bonito seu texto. Beijo,