quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Quisera

Quisera escrever um texto de fôlego. Quisera construir uma história em que os personagens caíssem feito estrelas cadentes na trama de infinitos nós. Quisera imaginar todos os possíveis fatos, até os inimagináveis, e fazer deles matéria prima de enredo, sem arremedos, sem medos. E colocar em cada fato o personagem mais embrenhado, cúmplice sem restrições, e que por pensamentos e atos se fizesse tão humano, frágil e forte, sempre no entrelugar, na oscilação, na contradição inerente ao viver. Quisera fazer um longo texto que coubesse a prosa e a poesia, todas suas fusões e incongruências, até vir o real, até beirar a irrealidade. Quisera conduzir o leitor nesse caminho sem volta, nessas vidas cheias de voltas, até vir o começo, até chegar o fim. Quisera escrever um texto de fôlego. Que fosse longo o suficiente para cobrir dias e noites de dedicação por puro envolvimento voluntário. Mas que fosse na medida oposta a qualquer monotonia, senão àquela que viesse no momento exato, que monotonia é parte natural de qualquer movimento que se espere mais extenso, prolongado. Quisera ter essa respiração profunda a inspirar todos os poros, a inundar todos os vasos, a exalar perfumes doces e ácidos. Quisera, quisera tanto, que ansiava não fechar qualquer texto, qualquer vida grudada nele, e deixar uma reticência depois de conclusões inconclusas, diálogos intermináveis a germinar na alma do leitor.

3 comentários:

André Zagreu disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
André Zagreu disse...

Belo texto, vc já pensou em escrever um romance? Acho que seria uma otima ideia!

Renato Pittas disse...

"Quisera", eu, estar sempre a ler tuas letras neste entrelugares que propõe-me tuas emoções.

Quis assim te dizer Grato!