domingo, 26 de agosto de 2012

Língua insana

Disseram-lhe repetidas vezes que nem mesmo um pouco de insanidade valia o instante, pelo perigo que houvesse, por provocar a ausência de proteção da realidade submersa. Eclode a fluidez na língua, que se torna inspirada, sem qualquer opacidade. Ela, a língua torna-se malfazeja por revelar tortuosidades da alma a dizer de si e do outro, do mundo. Ela inscreve nas palavras o gosto da imprecisão, mas goza de uma justeza na representação do sentimento, que jamais um só período de sanidade poderá revelar. É motivo de invenção para tudo que já foi sentido e silenciado; pede uma representação, uma compreensão dita, que soa conspurcada e indecente quando insana. E a insanidade não é necessariamente um tipo alucinógeno, senão um estado de ser de sensibilidade a gritar em som abafado e rico em harmonia, inquietação e agonia. E essa deveria ser a real razão de dizer, sem revestimentos gramáticos, sem repressões. Assim, seriam as palavras orgásticas nas cordas da língua, mesmo em desarmonia, significantes, destoantes da aparência, uma denúncia de ser e perceber. Que liberdade não precisar dizer em vão apenas para preencher as falhas insalubres da vergonha, do disfarce da realidade. Quase um ato de amar uma possível verdade, sincera manifestação do espírito, arrebatamento; a língua em crise, fugitiva de condições determinadas, de mentes acorrentadas.

Um comentário:

Nina Blue disse...

Menina, e como eu sei das dores que tenho sofrido sobre isto que você tão bem escreveu...
Beijos querida!