terça-feira, 17 de agosto de 2010

Qual era a música?

Ela deveria estar em outro lugar, mas não sabia qual. Não havia desejo preciso no pensamento dela, mas a sensação clara do lugar errado. Sempre se sentira assim em lugares errados, porque não os escolhera, não os desejara de fato, fora a eles apresentada, ficara; e uma vez assim neste estado de ficar sentia grande dificuldade das despedidas e de que os outros lugares também não fossem os lugares certos, ao menos por algum tempo. Então ficava e se admoestava por pensamentos de ir, enquanto seu corpo não movia e a sensação de lutar era antes uma falta de revelação incontida que um manifestar evidente e necessário sob os olhares de incompreensão. Ah...ela lutava por ir enquanto ficava; era sempre assim; esse ir por dentro que não ia por fora, e o tempo em vertigem sobre o abismo do mundo e da alma. Ela sabia que ele, o tempo, era o motivo exato de tanto pensar em ir, posto que se não fosse poderia não haver mais tempo. E ficava esse ressoar de fala em caverna dentro da cabeça; vá, vá, vá...Uma caverna apinhada de morcegos pendentes, cegos de visão e visionários do som. Ela sabia que havia uma música qualquer que devia ser a música dela, mas os ratinhos voadores não faziam concerto; somente alternavam a expectativa de uma seqüência de sons. Ela tentava em vão escutar o seu som, porque as notas não tocavam harmônicas e sequer faziam dissonância rara a repetir de tempos em tempos. Ela só precisava de um sinal sonante ou dissonante, qualquer sinal de ir pra outro lugar sem medo de não estar novamente, como sempre não esteve.

4 comentários:

Grã disse...

Talvez por isso não nos encontremos nunca... eu também, sempre não estou.

Nina Blue disse...

Eu fico aqui, entrelugares de amar as suas doces palavras, tão bom!

Paulo disse...

... e a busca vai trazer-lhe o lugar onde quererá ficar. Apenas ficar, porque sentirá, então, esse como o seu lugar.

Unknown disse...

como diria o poeta manoel de barros, "do lugar onde estou já fui embora".
essa frase tem me iluminado muito. passei muito tempo em um lugar só, sem questionar, só vivendo, aturando o som dissonantes do ratos da caverna. agora decidi seguir, há tanta luz fora da caverna. é um caminho de descobertas. o que encontrarei, ainda nao sei. visto-me de coragem e sigo.