Histórias sempre estão na fronteira; por mais que tentemos acomodá-las elas esbarram no real vivido, ouvido, lembrado; elas esbarram no imaginado, sonhado, criado...por isso evocamos os entrelugares, onde cabem o contraditório, o surpreendente e até o esperado...todos eles permissíveis à intromissão do eu e também à sua ausência, mesmo disfarçada.
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
Trocado?
Ele estava sentado ali na calçada em curva, os sapatos trocados, mas bem postos em pés sem meias, o olhar vago e o dorso nem tão emborcado. Ele achou de dar-se por ali, naquele canto sem canto, enquanto transeuntes olhavam-no dispersos, uns poucos atentos. Talvez ele fosse trocado de lugar como as vestes dos pés, talvez estivesse no lugar exato que planejara por força daquilo que não entrevia. Não havia paisagens, embora sob a cabeça o céu fosse razoavelmente azul por nuvens em contraste, rasas nuvens de chuva. Seus olhos também eram rasos, mas por eles não verteria chuva alguma, senão breves piscadelas sem direção, pura vaguidão. E assim ele vagou por lá sem vagar, com o vagar de quem contempla sem contemplar o de fora, mas um contemplar por dentro, de um jeito sanguíneo e melancólico, tudo em vermelho e preto, dia e noite a se fazer distante dos relógios do mundo. E por horas trocou-se por lugar algum que não aquele mesmo, onde não se situou, não voltou, nem sequer esteve.
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5 comentários:
Esses lugares de estar, sempre nos fazendo pensar, relatar, observar, e porque não, subjetivar...
Lindo, Keila, parabéns!
O contemplar por dentro é assim mesmo.
ah o cotidiano aqui recortado é de uma profundidade que nos leva muita alma acompanhar.
Lindo, Keila.
(eu, sem tempo, mas atento ao que é no sempre comigo)
Beijos.
Ricardo
Adorei!
Muito bom, gostei demasiadamente daqui. Seus textos possuem imagens claras e admiráveis. Parabéns pelas palavras. Grande abraço! Com certeza, volto aqui.
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