Histórias sempre estão na fronteira; por mais que tentemos acomodá-las elas esbarram no real vivido, ouvido, lembrado; elas esbarram no imaginado, sonhado, criado...por isso evocamos os entrelugares, onde cabem o contraditório, o surpreendente e até o esperado...todos eles permissíveis à intromissão do eu e também à sua ausência, mesmo disfarçada.
terça-feira, 26 de abril de 2011
Perceber
Se me coloco a te perceber, ponho-me a me perceber, e quanto mais me aguças a percepção, mais me desapercebo por intensa angústia de perceber. Se tudo quanto me dizes parece-me claro por instantes, por um refletir que se segue, coloca-se diante de mim como um escuro clarão, uma sensação de busca de claridade na escuridão. É um movimento constante, no qual fico submersa, no qual pareço flutuar, como um peixe nas profundezas e que vem à tona na busca de ar. Se penso já conhecer-te, engano-me, e engano-me mais por me desconhecer, posto que o conhecimento de mim só se faz por ti, que só me meço e me desconstruo no susto de te perceber. E na vida toda que se segue sou esse clarão na escuridão, um tatear com gosto de descoberta e perda que me fazes, que me faço. E se não me provocas esse perceber, contigo não estive, foi somente ilusão.
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2 comentários:
Mais se apercebe da luz quem beira o abismo... quem se queda no fundo do poço, à menor luz logo divisa ao longe... e o que há de bom em ali estar é que só há horizonte acima... :)
Que encontro fantástico...
Pessoas que eu admiro tanto...
Preciso também comentar!
Keila - Lindo texto,
Sua percepção é sensível.
Francisco a nos lembrar...
No horizonte, o que será que há?
Beijos!
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