quarta-feira, 10 de agosto de 2011

'Ilusionados'

Eu sinto essa imobilidade, minha e de todos. Sinto arder em meu estômago, uma das vísceras da alma. Onde estarão as virtudes? Se as soubéssemos...que bálsamo teríamos. É que hoje tanto faz, posto que tudo é perdoado, embora a tortura seja lenta e silenciosa para quem não quer sentir, ouvir. Torturados de vendas, a não ver o carrasco nem forca, senão um imaginário torto sem os encantos surreais, mas invertido, carcomido, como uma cicatriz, viva cicatriz. Se tudo quanto queremos está lá na prateleira, basta colher sem os esforços primitivos da coleta, basta pegar e trocar por papel inerte, um engôdo engenhoso pra nos livrar do peso mineral, um engôdo fosco de brilhos em personagens e natureza morta. Sentes essa imobilidade? Essa sedução ilusão? Crês talvez na incompreendida luta de conjecturar saídas para onde não há saída, labirintos minotáuricos, essa fusão tão apropriada ao humano enganador. Não, não sentes a imobilidade, posto que avanças irrefreável ao gosto de pegar pois qualquer beneficiado à venda, agregados ilusórios de valor, apêndices criados em avanços de narcisos, cheios de vontade de poder. Mas não queres colher amor, posto que este pressupõe o primitivismo da troca. Pressupõe também o trocar em abstrato, para além do objeto. Há nuances maravilhosas nisso, imprecisões raras, acertos inimagináveis de sentir.

ESCREVI ESSE TEXTINHO, COM CARINHO, PARA OS AMIGOS DO http://www.pessoasatoa.blogspot.com

5 comentários:

Unknown disse...

Engraçado, esse texto caiu como uma luva hoje... já pensou em se aventurar pela poesia? :)

Adilson SS disse...

Vivemos uma ilusão. Fato! A realidade dói aos sentidos. Talvez desejamos viver dessa maneira, enganados, surrupiados da dor que a realidade insiste em nos imprimir. Doce ilusão!!! Porque abandoná-la, se ela nos faz tão bem. Porém, uma dia ela nos cobrará um preço pelo bálsamo que ela nos oferece. O azedume cercará nossos lábios, o acre sabor ofuscará de novo nossos olhos. Não se trata de benevolência na troca, deixemos de ser enganados, mas de uma mais-valia planejada ardilosamente nos recônditos do nosso âmago. Haverá esperanças? Quem sabe. Jamais conseguirémos responder por esses corações selvagens que enjaulamos nos nossos peitos e teimamos em domar. E pra que domar, se desejamos ver esse corcel cavalgar sem rumos pelas pradarias da vida. Vivamos a ilusão!!!

Adilson SS disse...
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Penélope disse...

A realidade sempre foi desconfortável, pois nela as coisas são nuas e cruas... as ilusões amenizam, porque as criamos como queremos até que elas fujam do controle - e fogem - porque são ilusões...
Seu texto é muito bem escrito.
Pareceu-me ter um bisturi a manusear nesta escrita cirúrgica.
Isto também o torna reflexivo.
Abraços

Nina Blue disse...

Fico feliz, pois além das nossas prateleiras internas, há você com seu lindos textos. Obrigada querida!