segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Chega...

Chega um momento que não se apercebe, mas já se está adestrado, acostumado às rotinas de horário laboral, às contas a pagar, aos supérfluos indeléveis como a maçã grudada na barata kafkaniana. Chega um momento que a saída se estreita de tal forma, que a ilusão de liberdade se desfaz na prisão de não ser e não saber aonde ir. Chega esse momento em desacalento de segurança sórdida e frágil na sensação da alma. Chega esse momento repetido, desvencilhado de qualquer espírito nobre, criativo. Chega esse momento como aperto no peito, angina malfazeja, somática por pensamentos de compressão. Chega um choro, chega um soluço pós-prandial a sufocar a modorra da tarde, o calor do alimento. Chegam esses metabólitos monstruosos de uma vida mesquinha, medíocre, na acidez da saliva, no ardor estomacal, na paralisia intestinal. Chega também o suspiro de não suportar esse limite contraditório de não ser e ser. Chega vem imperativo, pegajoso nas palavras mal ditas, reprimidas, confusas, a buscar ressonância em ouvidos cavos, rasos. Chega se perde, chega é incompreendido, chega some, chega vai feito animal de circo em picadeiro teatral, em performances bem ditas, santas por olhos cegos, deletérios.

2 comentários:

Penélope disse...

Sempre achei que a rotina é necessária para estabelecermos metas e alcançarmos determinados objetivos, porém há vezes que temos que colocá-la de canto e poder viajar por outros rumos que nos dê a oportunidade de crescer...
Abraços

Mayara Floss disse...

E talvez aquele amargo chegue a boca do dia-a-dia.

http://www.entre-primos.blogspot.com/