sexta-feira, 22 de junho de 2012

Turbulências

Poderia ousar, insistir sobre as tantas complexidades de sentir que a envolviam, até das insensibilidades, dos momentos em que uma vaga qualquer se interpunha e os significados sumiam. Mas todas as vezes que se postava assim nesse movimento pendular entre o sentimento vivo e a ausência encontrava um labirinto, um entremeio no estilo processual, instável e subitamente lógico de tudo que “sentifica” e nega também a existência quase sempre imaginativa, criativa, que transborda a realidade. Tudo por conta desse sentir em significação, nada mais que a percepção em emoção, transmutada na imprecisão, na vã tentativa de explicar o estranhamento e sua falta, dada a sua subjetividade imanente. Era dentro que tudo se dava, numa interioridade sufocante a carecer de um estômato, de uma tranqüilidade vegetal que fizesse uma troca sutil com o externo tão indecifrável, o qual ela arrogantemente sonhava submeter sem verdadeiramente compreender. Assim, ela se colocava na dianteira e no final da fila a cruzar os olhos estupefatos naquela composição de linearidade falsa, de complexidade escondida de todos os fatos narrados, das histórias classicamente classificadas de trágicas, comedidas, hilárias; uma aflição permanente das categorizações estáveis, de tudo que a fazia sumir, sair do lugar sem encontrar outro; turbulências.

2 comentários:

Carlos Pires disse...

Tenho pena e não respondo.
Mas não tenho culpa enfim
De que em mim não correspondo
Ao outro que amaste em mim.

Cada um é muita gente.
Para mim sou quem me penso,
Para outros --- cada um sente
O que julga, e é um erro imenso.

Ah, deixem-me sossegar.
Não me sonhem nem me outrem.
Se eu não me quero encontrar,
Quererei que outros me encontrem?

Fernando Pessoa

Nina Blue disse...

Querida Keila, tua escrita é maravilhosa como sempre.
Quero te enviar um convite para acessar o meu blog, mas não tenho o seu email...
Tonces, o meu é: mxpklein@gmail.com e "entrelugue-se" comigo. Beijos!
Nina