Histórias sempre estão na fronteira; por mais que tentemos acomodá-las elas esbarram no real vivido, ouvido, lembrado; elas esbarram no imaginado, sonhado, criado...por isso evocamos os entrelugares, onde cabem o contraditório, o surpreendente e até o esperado...todos eles permissíveis à intromissão do eu e também à sua ausência, mesmo disfarçada.
quarta-feira, 27 de janeiro de 2016
Águia
Sabia desde sempre que de perto ninguém era igual, que os traços se projetavam e ganhavam contornos de alma. Ela invadira aquela face de tal maneira a ver a fantasia exposta pela realidade. Ele tinha olhos de águia, redondos, vivos como a claridade. Seu nariz curvava-se levemente, enquanto as narinas abriam caminho para o ar do mundo. Cabia tudo naqueles pulmões, ou seriam sacos aéreos?! Um dia ela disse a ele; 'por fim, eram mesmo uma ficção'. E foi assim que nasceu a águia, de braços de longos e espessos tendões; quase asas. Os abraços faziam ninho em volta dela. A boca era um sonoro acalento de alimentar e acariciar. Os dedos eram de rapina; grudavam, mas também doavam; alimento na boca da cria. Todo o corpo era um tomar voo, e pra pousar quanta precisão e leveza. Era por certo um homem águia, um doce sonho real, a ficção dos olhos dela.
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