quarta-feira, 4 de maio de 2022

A escultura de Rodin

A ninfa sonhara com um ser de chifres, pra lá de endiabrado. Era cortante, atravessava o vento e os espaços dos corpos, preenchia falhas num gesto de terror e gozo. Os olhos rubros tencionavam faiscar, mira e dardo. A pele alva desafiava qualquer escuridão. Diabólico, perdia as pernas, ganhava patas e cascos, galopava com o riso solto, pã a flautear sedutor. Voltava toda noite branca, em que dia e noite se confundiam. A hora era incerta. A ninfa tinha terror, fitava os gestos dele e se desmanchava no ar. Ela era o próprio ar. Voava pelas noites brancas temendo o susto diabólico dele. Um dia ninfa descansava asas quando ele chegou. Exausta de tantos voos, fugas e brincadeiras, não recuou. Endiabrado atravessou o corpo dela espantado. Desmanchou. A ninfa tonteou e chorou. Desejou as diabices dele. Então, diabólico ressurgiu e os dois se fundiram, lâmina e sangue, rio vermelho. Ninfa começou a se transformar, tudo nela se avolumava; peitos, lábios e pernas. Pandemoniados estavam, furiosos, extasiados. Transformada, ninfa começou a congelar. Agora era Súcubo, uma escultura, linda e petrificada.

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