domingo, 1 de junho de 2008

Do Galba

Estava lá. Grandalhona, espalhada, enviesada na calçada do quarteirão do quartel. Roupa colada nos membros inferiores, cobrindo-os só até os joelhos. Blusa curta com folga, menos no abdômen protuberante. Antebraço ralado com sangue já coalhado de listras em alto relevo, irregulares. Passaram uma, duas, três pessoas; uns de olhos estatelados e pescoços girados voltados para baixo; outros, só viravam os olhos. Parar mesmo...só a quarta de cabelo pretinho, curtinho, com um cãozinho Dachshund na coleira, também pretinho; cara de uma, focinho de outro. Perguntou: - Posso ajudar? Os olhos entreabertos, prestes a fechar de vez, em vão buscavam a imagem da “moça Dach”, até que balbuciou um gemido. Depois veio a quinta pessoa; cabelos longos, apressada; parou assim mesmo. Não havia como rejeitar uma imagem tão indiscreta. Acertaram então as duas: chamar um policial, afinal de contas, era território deles.

Lá se foi então Mônica, a dona do lingüicinha, em direção à guarita do quartel. Chegando lá deparou-se com um policial fardado, de quepe, sentado com olhar no vazio. – Por favor senhor...tem uma mulher caída no chão, logo ali...pode ajudar? – Agora não posso. Enquanto isso, Marta tentava obter alguma informação, mas sem sucesso. Até que percebeu que na mão da “criatura” havia um papel enrolado, e sobre ele o nome DORA, em caneta pincel azul. De repente a mão da moça começou a desenrolar o papel e o conteúdo veio à tona: seis comprimidos, de tamanhos e cores variadas. Foi quando chegou Mônica e disse que o policial não viria. Marta visivelmente perturbada esteve a ponto de arrumar uma confusão com a polícia, e manifestou sua indignação: - Pra que serve ter um quartel aqui? Decidiu, então, que ia lá falar com o policial de novo. Chegou nesse momento mais um grupo de três mulheres; todas manifestaram o interesse em ajudar. Uma delas se prontificou e foi na frente de Marta...Desta vez o milita não teve salvação. Veio com aquela cara de Meu deus eu mereço, mas veio.

Curiosamente, a chegada do guarda deixou a moça bem mais interativa. – Onde você mora? perguntou Orestes. - Na lagoinha... – Você quer ir pra onde? – Para o Pronto Socorro, João XXIII; e apenas três dentes espaçados na boca. Marta interveio: - Tem uns remédios com ela. – Você quer ir para o Raul Soares? destilou “brilhantemente” Orestes. – Não...para o Galba...- Quer ajuda para assentar? – Sim. Orestes não só ajudou a moça a aprumar o corpo em posição de assento, como levantou-a com certa dificuldade...- Uma viatura leva você...Seguiram os dois; Orestes um pouco mais atrás verificou com olhar fixo o volume e a consistência das ancas da moça. Marta pensou: - Será que fizemos a coisa certa? Imaginou na seqüência cenas nem tão amenas, mas que aquela que vira não se repetiria tão facilmente. Enganou-se. Ao passar alguns dias depois pelo mesmo lugar, estava lá a Moça do Galba num diálogo, nem tão amigável, com um guarda. Ele dizia: esse negócio de levá-la até o Galba já está virando brincadeira...

Nenhum comentário: