Histórias sempre estão na fronteira; por mais que tentemos acomodá-las elas esbarram no real vivido, ouvido, lembrado; elas esbarram no imaginado, sonhado, criado...por isso evocamos os entrelugares, onde cabem o contraditório, o surpreendente e até o esperado...todos eles permissíveis à intromissão do eu e também à sua ausência, mesmo disfarçada.
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
Gentes de coração
Tem gente que conhece a gente na formalidade, depois vira informal até demais. Outros ficam sempre na formalidade. Tem gente que é um desnudar na vida da gente, porque pega a gente de susto, no tropeço, no afogamento, no desalento, no riso espontâneo descontrolado, no mundo paralelo, no mundo real tão irreal (talvez a gente seja o irreal mesmo que vive teimando em ser real pra não confundir muita gente. Tolos os que pensam que a gente é palpável porque o toque é só o prenúncio da lembrança e a imagem é um estreito espaço de tempo que se perpetua e se desfaz em sub imagens, super imagens). Para os jornalistas não falarem que estou fazendo nariz de cera, a popular enrolação, afirmo que essa introdução é fundamental para a compreensão dessa croniqueta de viagem no mundo e nas pessoas que conheci e reconheci. Nem sei o que pensaram sobre mim, porque nem sei o que pensar sobre mim, porque às vezes gastamos o tempo no fazer, às vezes no pensar, às vezes no pensar fazer, e tudo se confunde. Resumindo: fizemos e deixamos de lado o pensar, ainda que ele, o pensar, nos tocasse a mente insistentemente. Fechamos as portas e nos colocamos nas caixas, na poltrona da sala da casa, na cadeira da praia, no banco do carro, no banco da rua, no colchão, no salão de festa; libertamos o riso para ele não se perder sobre as situações indiscretas tão próprias e impróprias. Eu e Vivi sempre juntas, encontramos outros sempre juntos; Ju, Gabi e Bruno, no Rio de Janeiro. Reencontramos tanta gente, gente que ficou exponencial de tanta atenção e acolhimento; Gláucia, Gilmar, Vick (ótima companhia de rir junto, comer macarrão oriental e pizza quente na feirinha, de olhar pro alto, fingindo mirar janela pra não inibir a moça alta, que queria entrar no Estrela da Lapa para ver show de bossa eletrônica, e tantos outros disfarces) e Danilo (em volta da gente na hora da maquiagem, por todos os lugares, como um menino de outro século, encantado pelo preparo das meninas para festa; o doce Danilo, sonhador e acolhedor) e todas aquelas gentes em torno da mesa, engraçadas e acidamente bem humoradas como Eron e Jairo, silenciosas e sabiamente observadoras como Abraão, alegres e ensolaradas como Eva, ‘cuidadora’ amorosa dos especiais e delicados Buch e Megue como a Edna, e tantos outros que seria prolixo enumerar, pois a casa da Gabi parece mais uma praça de degustação de comidas deliciosas, onde todos se reúnem pra falar de água, de pó e de ar, de toda matéria e i(matéria), do coração e da mente. Gilmar brindou meus ouvidos com a linda coletânea do Elvis Presley e sua culinária de todo dia, feita com carinho e cuidado. Gláucia é difícil dizer, porque é o dito de carinho e atenção, e acho que todo mundo vai lá sentir as emanações dos seus olhos azuis vivos. Gabi nossa sempre companheira de festa e de soninho. Ju , embora não tivéssemos sido formalmente apresentadas, já sabia meu nome e não lançou nenhum olhar de reprovação, mesmo sabendo que fiquei presa no banheiro em plena festa de reveillon e pior, vomitaram no meu pé. Ela simplesmente, solidariamente, pôs-se a lavar os pés dela na piscina junto comigo. Ou seja, se caíssemos, caíamos juntas. Agora o Bruno, o menino no meio das meninas, penso nele como um perfeito espião do mundo feminino, o confuso mundo feminino da modernidade. Mas um espião do bem, com a palavra julgamento esquecida, o riso solto e uma habilidade pra levar as garotas para o mar e fazê-las virarem ‘sereia’. Eu mesma tive aulas de pegar onda e saí toda alegre, com a sensação de dever cumprido. ‘Entra na onda’, Bruno dizia, ‘foge dela não, que é pior...’ E foi nessa onda de entrar na onda que passamos o final do ano, eu e Vivi, a contadora das proezas de todas as noites e dias, que eu sou obrigada a reverenciar, porque perto da oralidade dela, essa minha escrita fatalmente já se perdeu...
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14 comentários:
Sacanagem :( nem falou de mim!
Sacanagem :( nem falou de mim!
Sacanagem :( nem falou de mim!
Sacanagem :( nem falou de mim!
Sacanagem :( nem falou de mim!
Sacanagem :( nem falou de mim!
Muito boa!
parabéns mais uma vez, e essa oralidade toda...rsrsrs...nem tenho...mas fico feliz de repartir com você sempre o mundo que vou conhecer!!!rsrs
bjus
keila, parabéns. você escreve com tanto sentimento que é impressionante.. adorei o texto e adorei ter você e vivi aqui em casa. vê se vocês voltam logo e da próxima vez tem que escrever sobre todo mundo porque a galera ficou com 'ciúmes', percebeu?
aahaha
beijos.
sacanagem:(falou pouquinho de mim) hahaha
keila vc é melhor q queijo.
Eu de novo percorrendo destinhos e caminhos longe dos seus. Beijos, Keilinha e Vivi.
Mas eu falei de você no poste inaugural do meu blog novo!
Tô no blogspot agora.
Beijos!
Novamente, muito bom texto Keilota... adorei! Fiquei me lembrando das nossas aventuras e da delícia da sua companhia, sempre hilária. Beijos. Taci.
Keila, seus textos me fazem viajar de olhos fechados. Tive a sensação de ter participado de cada detalhe. Ótimo, vejo que se divertiram muito.
Bjão!!
Silvia
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