terça-feira, 9 de março de 2010

Segredo confesso

Ela sabia do segredo, do dela tão segredado, guardado para si, desgarrado de si, gritado nos olhos de desvio, nos lábios de dúvida, no franzir da face, na testa cheia de entrelinhas...Ela sabia que esses espaços dúbios dentro de si estavam lá exatamente pra serem segredados, porque o que segreda grita tão alto que faz subsumir todo silêncio sufocado. Ela sabia que o segredo é sempre parco, mas vaza como leite derramado e escorre na boca afogada em saliva, em ossos e carnes trêmulos...Ela sabia que ele saberia do segredo maior que não tem nome, nem chave mestra, nem qualquer outra que sirva pra abrir, porque segredo nenhum fica escondido, porque nasce do compartir entre momentos, entrelinhas, entremeios...Ela sabia que segredo tem um nome qualquer do sentir esconder que nunca se esconde dos olhos do gato ou mesmo do retrato, dos congelados escancarados ou mesmo disfarçados...Ela sabia do segredo e sabia que segredar é romper o indizível na performance do devaneio, do instante roubado e divinizado dos entremeios, entre ela e ele num barco qualquer em mar alto ou no silêncio do fundo do mar, mesmo no ar de repercussões sonoras e cheiros misturados, o disfarce da essência entre outras, entre respiros pelo ar e para o ar...Ela sabia e não tinha a pretensão de segredar, mas segredava e segregava o outro, no fingir confesso de dizer mesmo sem dizer...no segredo confesso...

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