domingo, 14 de março de 2010

Um flash black

Agora a chuva desce copiosamente, depois do calor sufocante e dos corpos frenéticos da madrugada no salão do Flash Dance, em Venda Nova, quase na fronteira com Neves. Corpos em rodopio, em balanço e arrasto de pés puxando os quadris em vertigem branda, em vertigem alucinada pelo swing da música negra, em braços de vôo. Negros corpos esbanjando fantasias, chapéus, casacos, coletes, sapatos bicolores; vaidade e movimento. Nada melhor do que visitar um lugar assim; fora da rota da rotina, das ‘agendas culturais’ da cidade Belo Horizontina, um baile que deixou saudade, que chamam de Saudade, um flash de dança de um tempo que marcou corpo e pensamento, agora lido e relido pelos corpos do presente, de identidades à procura, confusas, mas que carregam um delírio qualquer de nostalgia e pensar sobre o que foi e o que será. E ainda há os corpos ávidos de pura sensação, quase invólucros a esconder um avesso de não pensar em torno de uma ruptura que se desfaz e se refaz, num respirar ofegante. A busca pela experiência pura da sensação que nada mais faz que refletir a compreensão do seu próprio significado, porque sentir é conhecer essa parcela, muitas vezes, renegada desse natural que reivindica o mover, um reflexo de vida que pulsa em ritmos descolados da ordem, que revelam desordem, enquanto os corpos travados em suas potencialidades agonizam. E ali era o espaço do ‘frenesi’, do já visto nunca visto, do palco revelado em cada canto e 'canto' fervente, em cada mistura de pele negra e pele branca, na genialidade da mistura dos cheiros do movimento e do som, um flash cinematográfico, hemorrágico, sem verborragia aparente, mas de palavra latente, a palavra do corpo arte; um flash black.

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