Histórias sempre estão na fronteira; por mais que tentemos acomodá-las elas esbarram no real vivido, ouvido, lembrado; elas esbarram no imaginado, sonhado, criado...por isso evocamos os entrelugares, onde cabem o contraditório, o surpreendente e até o esperado...todos eles permissíveis à intromissão do eu e também à sua ausência, mesmo disfarçada.
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
'Impaladar'
O passar das horas era-lhe cada vez mais ’impalatável’. Ficava aquele sobejo sem gosto na boca e sobre os dentes uma camada oleosa enjoativa a impermeabilizar outros sabores vindouros. Vinha só esse ‘impaladar’ do tempo de palatabilidade espúria. Porque o tempo era ido e vindo; não dava tempo pro eu pensamento e pro seu despertar de sabores. As papilas da língua doíam, não se conformavam com o costume dos gostos, e perdiam aquela habilidade surpreendente de amar o doce, o salgado, as bases, os ácidos e até os amargos. Era urgente aquele tempo de gosto, gostar do tempo, mastigá-lo delicadamente e engoli-lo cheio de saliva, mas a sua oralidade secava, não havia palavra boa no tempo. O tempo declinava da boca, do sabor na boca, da alma da boca.
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2 comentários:
Keila, me lembrei da maravilhosa e crocante mil folhas que a minha boca se deliciava na feirinha de Teresópolis, anos atrás...
Que belo espaço tu tens aqui, em palavras, imagens e sons. Gostei, parabéns.
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