segunda-feira, 28 de março de 2011

Uma arqueologia

Amor poderia se chamar curiosidade, curiosidade de cada parte não tocada, não anunciada;
Cada parte usurpada por pura e simples natureza inacabada de cada instante;
Se te colocas a encontrar e registrar cada espaço de superfície e falha do outro;
Se te incumbes dessa arqueologia amorosa, falhas por entre as falhas;
E crias um abismo de profundidade oca a ressoar infinitas canções de desatino;
E em vão procuras a origem das cicatrizes visíveis e invisíveis;
E a constituição dos suores, rios do enlevo e do labor, os fluidos de todo dia;
Porque queres todas as rotinas, todos os relevos e planuras naquele corpo, naquela mente;
Todos os volteios, as barreiras intransponíveis, os limites do céu, os magmas do subsolo daquela alma que sonhas completa, mas que aceitas humildemente incompleta;
E os sons que o outro entoa fazem-se signos de presença, de ausência;
São odes, são louvores e gritos sufocados, ainda que embalados por sussurros;
Amor poderia se chamar uma disposição arqueológica;
Posto que qualquer um é solo, é rocha de outros tempos em camadas datadas e indecisas, os limites a flutuar;
Amor é um caminho para o encontro de um ponto qualquer desencontrado;
Aquela reentrância jamais vista, percebida pelo tato, pela intuição;
A descoberta das descobertas;
Quase uma pureza e uma alegria da alma de saber do outro aquela pequena grandiosidade desconhecida.

8 comentários:

Carlota Joaquina disse...

Minha querida Keilinha...meu tempo tem estado tão curto q mal consigo ver minhas "coisas urgentes". Ainda bem q hj me permiti passar aq. AMEI esse texto e adoraria postá-lo no facebook: vc me permite?

bjs

Renato Pittas disse...

Ando mei desligado com as minhas arqueologias...pretensiosamente desligado delas me reencotro comn um dos melhores oásis que reconheço neste deserto...coisas de percepção nomade!

Saúde ! te voglio bene!

Luciano disse...

Narrativa poética.
Gosto da maneira como escreve e constroi as imagens.

Unknown disse...

Ola, estou a te seguir srta. no blog, claro, rs.
belo blog.

a conjunção imperfeita do amor corresponde tudo que deveríamos tocar?
escavar?

bjo te cuida

heloísa gomes disse...

amei teu blog *--* , estou seguindo ele, segue o meu tbm? http://viveraartedesorrir.blogspot.com

bgs e sucesso (:

Nina Blue disse...

Ah essa arqueologia do amor...
As vezes tão antiga, em outras tão contemporânea...
Sem deixar nunca de ser amor!

Unknown disse...

há algum tempo que não te visito, espero que esteja tudo bem desse lado do atlântico;)

estrato a estrato se mergulha na arqueologia do amor: do outro, do eu.

é preciso saborear o estar aquém da plenitude do conhecer, para que cada dia faça sentido como oportunidade e hora de busca.

uma semana cheia de Luz*

icendul disse...

desculpa, keila! a mensagem anterior devia ter a chancela "icendul".