Histórias sempre estão na fronteira; por mais que tentemos acomodá-las elas esbarram no real vivido, ouvido, lembrado; elas esbarram no imaginado, sonhado, criado...por isso evocamos os entrelugares, onde cabem o contraditório, o surpreendente e até o esperado...todos eles permissíveis à intromissão do eu e também à sua ausência, mesmo disfarçada.
segunda-feira, 16 de maio de 2011
Olhos gordos magros
Eram gordos os olhos dele, como a perscrutar algo de nutritivo no olhar dela. Ele buscava um gesto qualquer de acolhimento para aqueles movimentos dela desajustados, de querença e de fuga. Ele não se confundia sobre ela. Esperava com cautela a hora exata em que os olhos dela se enterneceriam, quase num piscar, como se ali ela finalmente sempre estivesse, presa àqueles olhos famintos prestes a se saciar. E esse banquete seria todo o deleite dele, e para ela restaria uma consumição da alma, de todas as energias que ela cuidadosamente havia resguardado, e ele não saberia, não imaginaria aquele deslize premeditado dela, aquele deslize certeiro, para aquele feitiço a que ela havia se entregado, o feitiço dele. Depois da consumição, restariam aqueles olhos magros dele e os dela ganhariam uma fome retumbante de volver aquele olhar de novo pra si como toda a razão de sua existência. E seu olhar pra ele seria sempre obeso, de uma morbidade assustadora e paradoxalmente desnutrida, de querer indizível de pupilas dilatadas em realidade, em sonho, em imaginação.
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2 comentários:
Magnífico.
Simplesmente assim.
Queria te convidar a escrever um texto comigo e meu amigo de blog, Fabiano Queiroz.
Blog Chuva Peregrina.
Dê uma luz de feminil no que temos por lá.
parabens!!
caso queira conversar a esse respeito: elieser.baco@hotmail.com
Lindo o seu texto feitiço!
Beijos novamente!
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