terça-feira, 12 de julho de 2011

Textos eles

Era uma nuvem a esfumaçar por toda lembrança dele. Um certo ar de dia desértico, quase a soprar um vapor morno, acolhedor, mas modorrento, como a cozinhar memórias, palimpsestos. Ele era um texto, ela também. Faziam textos sós. Faziam textos juntos. Textuavam pois, em versos e prosas, em peles por conjunção em verbos de amar, amigar, sofrer também. Os textos se conheciam. Os textos se digladiavam. E vinha um susto de incompreensão de gramáticas e vocabulários de emoção impensada; pensada também. Ah como textuavam por caminhos de textos registros, textos pensados em registros, no após, no deglutir e fazer o texto sós, fazer o texto juntos. Em todo lugar que tocavam também se fazia texto de acalento e desejo. Eles eram como meninos do dedo verde, mas o que tocavam virava mesmo só texto em silêncio e grito, um linguajar próprio e universal, um dialogar e romper, por ponto, vírgula, ponto e vírgula, dois pontos. Tiveram que fazer pontuações em seus textos para dirimir os conflitos, acertar o entendimento. Abusaram das interrogações e exclamações para enfatizar o teatro que é o próprio sentimento e dúvida. Fizeram tantas reticências...reticentes que eram... Também negaram toda pontuação a emitir gemidos e grunhidos, que eram o mais apropriado texto por certas horas. Textos eles foram, textos eles são e sempre estarão um texto qualquer.

2 comentários:

Nina Blue disse...

Querida Keila,
Obrigada pela sua visita e também pelo seu generoso comentário. Eu estou muito enrolada com o consultório e a monografia, por isso o meu sumiço. Confesso não ter tido o tempo que eu acredito, e muito, para ler e apreciar o tanto que o seu blog merece...
Porém, você sabe o quanto eu a admiro e a tenho em meu coração. Então, muito obrigada por não esquecer o Das Verlieren!
Quanto a este maravilhoso "Texto eles" fico pensando...
Adoraria o ter escrito! Lindo!
Beijos!

Unknown disse...

Fico surpreso pelo alto nível dos seus textos, e adorei esse. Parece tão fácil escrever! É que nem chutar uma bola. Você vê o cara marcar aquele gol que parece que foi feito com a mão, aí você vai no campinho, pega a bola, tenta fazer igual, tropeça na bola, cai e bate a cabeça, e descobre que escrever é difícil pra cacete rs. Parabenzos