Histórias sempre estão na fronteira; por mais que tentemos acomodá-las elas esbarram no real vivido, ouvido, lembrado; elas esbarram no imaginado, sonhado, criado...por isso evocamos os entrelugares, onde cabem o contraditório, o surpreendente e até o esperado...todos eles permissíveis à intromissão do eu e também à sua ausência, mesmo disfarçada.
terça-feira, 18 de agosto de 2009
Aparição
Aparição é coisa de assustar. Tem visões que nem são visões e são visões, porque parecem visões. De tanto esperar e evitar e esperar aquela imagem, a surpresa pelo privilégio daquilo divinizado diante de si, fez faltar o ar. O corpo ganhou tamanha capacidade de sobrevivência e os tecidos, todas as células ficaram atléticas, apnéicas, mudamente histéricas, amitocondriais, enquanto a imagem dela desaparecia frente a sua fisiologia alterada naquele instante. Tudo que poderia ter dito se calou, porque o instinto de sobrevivência não permitiu nem raciocínio, nem fala que valesse ou suportasse a confusão por dentro dela. E a torcida era toda para que ninguém percebesse, tão incomum pareceria algo assim não dito e tão vívido e vivido. E qualquer gesto não valeria, porque simplesmente, tudo o que se apoderara dela era uma espécie de dormência, porque, afinal de contas, não havia mais oxigênio em parte alguma. Aparição é coisa de tirar o ar e não cabe entendimento algum. É uma espécie de constatação sem argumentos e sem salvação, simplesmente aparição.
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