segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Uma cama no além

Ele vinha sempre, nos últimos meses, deitar-se ao seu lado na cama, naquela cama que insistentemente adquiriu, mais ampla, como se realmente houvesse alguém pra se deitar ali todos os dias, desde sempre. Foi divino já tê-la ali, espaçosa, ainda antes que ele chegasse. De fato, ele parecia meio fantasmagórico, posto que nem sempre se deitava na mesma hora que ela, nem mesmo se levantava quando os olhos dela se abriam para as manhãs obrigatórias, com seu coração ainda em sono de sonho. Ele surgia em horas imprevistas quando a mente dela divagava e o peito ansiava um afago, e o corpo sofria de uma angústia inexplicável. E ela se alegrava por tê-la, a cama tão grande pra que ele se aconchegasse, mesmo que não ocupasse todos os espaços, sempre insistente que era na superposição de corpos, como se o vazio o aterrasse, o vazio daquela cama. O rosto dele nem sempre vinha o mesmo, muito menos o corpo; por vezes parecia-se com alguém conhecido, mas ela pressentia que, de verdade, o reconhecimento era algo forçado, como se um fantasma não coubesse naquela cama, mas antes um desejo bem formulado, exato dos gestos que seu corpo pedia sem reservas. E aquele desprendimento todo, aqueles arrepios e convulsões vinham de um jeito sôfrego, porque sempre aquele que vinha se afastava, mas sem movimento algum, e aquele espaço da cama de estendia no além...

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