segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Morte do tempo

Não é mais a hora da descoberta encoberta. Dizem e insistem que ela já passou e que não valem mais surpresas e encantos. Que agora restam o cotidiano e os anos que restam. Por isso, não cabem mais as poesias em momentos irrecuperáveis, perdidos. Não cabem nem prosas, nem diálogos infindáveis, porque as conclusões inconclusas não reverberam mais. É hora do resoluto viver, sem artimanhas e deslizes, sem prosas e poesias. Não há mais tempo para elas, que elas gastam o tempo do fazer, do ganhar o dia, o mês, o ano. Quem dirá então da subversão da poesia na ausência do intervalo, no instante da utilidade laboriosa do tempo? Quem ousar infringir essa regra máxima do trabalho e insistir na poesia está desconexo, absolutamente sem lugar. Aos sem lugar o pecado do lugar de estar sem lugar. Não pode mais a poesia, a prosa sobre incompreensíveis maneiras de não viver e viver, de pensar em não viver pelo narrar sem fim e até morrer de tanta poesia e tanta prosa perigosa. Não adianta. Perca o tempo com perfusão de imagens, disfarces hábeis para o vazio, mas não o perca com poesia e morra o tempo. Que a ausência de poesia é a morte do tempo.

2 comentários:

Ricardo Fabião disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ricardo Fabião disse...

Keila,
ainda há aqueles que arriscam o relevo insone das palavras...
para mim, o tempo já não dispõe de tanto tempo para cobrir tudo com sua pesada mão. E por não temê-lo, sou desses que põem ainda uma palavra no fogo para aquecer os beirais frios da existência. (porque o núcleo das coisas foi tomado pelos relógios)
Não te assustes se venho aqui encher minha jarra com um pouco de tua água... é que já não se fala em sede por onde navego, e quando se deixa de falar, deixa-se de existir. As palavras secaram, e o cansaço é o tema dos dias.
Tenho lançado meu barco sobre intermináveis desertos... há muito que não encontro o que colher. Armarei minha tenda, e aqui descansarei uma das eternidades que me restam.

Algo em minha alma planou quando esbarrou em tuas palavras.
Cresci.

Abraço,
Ricardo

Passa no meu blog "Curvas da palavra")