segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Tempo perdido IV: eu nós

Não queria fazer uma narrativa do personagem narrador...queria ser o onipresente, que vê tudo e apreende cada instante como um círculo de infinitos pontos a girar, cada ponto um conto, de mim e de você...Esse pedaço do tempo perdido, talvez seja o mais perdido de todos, porque é porção de aventura do pensamento, de sensações de pensar em não pensar um tanto particulares, mas por momentos, compartilhadas...Esse pedaço é aquele pedaço ainda cru, cheio de trigo e açucar, a raspinha da forma, a sedenta raspinha ávida por línguas de papilas curiosas, o segredo maior do ritual do bolo. Não quero te imortalizar em uma escrita torta nem reta, porque você me encontrou nesse meu não lugar, e não se incomodou com esse nomadismo inconstante meu; parece-me que não. E você deixou que eu morasse um pouco em ti, ainda sabendo que não se mora em ninguém, nem na gente mesmo. Esse é o encontro mais divertido e sério que pode haver, porque é de uma disputa pra não ganhar, mas pra conhecer e reconhecer e desconhecer, sem olhos de comiseração ou de admiração extrema; imagino, pois que não tenho a visão, mas uma visão, clara somente por momentos. E ver o nascer do sol em relativo silêncio, e brincar de jogar e não vencer, pelo gosto discreto do empate, da vitória da companhia, e das mãos de apoio nas trilhas e do roçar de braço quase pequenino, grande na graça, e do dançar no salão e em escuros da alma e do corpo, perto de escadas e muros, insustentáveis na mente da gente, e a serra sob o olhar nosso de pedra que se desfaz em água quente e gélida, e em corações quase cerebrais, querendo compreender a emoção, o sentido irrecuperável do sentir, que passa e permanece na gente...

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