terça-feira, 9 de março de 2010

Assentos

Aquelas duas cadeiras postas
E a luz serpenteando no meio
Aquele vazio nos assentos
Gravemente acentuado
Pela luz no entremeio
Aquelas duas cadeiras postas ali
Para o sentar de descanso e ‘canso’
E a luz escapando pelo meio
E os corpos ausentes
Enquanto os assentos silentes
De nem mentes
De nem montes
Cavernosos ou rochosos
Se enchem
Aquelas duas cadeiras postas
Sem mortos ou vivos
Talvez natimortos
Os que não vieram
E a luz se deu
Nos partos esfumaçados
Da imaginação
Enquanto as cadeiras postas ali
Quase ventres estéreis
E a luz atiçante, ululante
No apago da noite
No lago do dia
E as almas sobre os assentos
Em ‘Ls’ obscenos
Escondidos gozos
Ofuscados de luz divina
Aquelas duas cadeiras postas ali
E aqui, e acolá
Por um clássico sabor de solidão
A decorativa solidão
Até vir os complementos de solidez
Os complementos de sordidez
As visitas indiscretas
No templo do vazio
Sem anedotas ou sátiras
Ou risos de sorrir da boca faminta
Aquelas duas cadeiras postas ali
Sem os liames sonoros
Do assentar e conversar
E gozar no outro
De ouvido nu
O gozo maior da palavra
Bem ali
Nos dois assentos postos ali...

Um comentário:

Ricardo Fabião disse...

Muito há que ser colhido aqui: frutos que não se encontram por aí, sobretudo em momento tão crítico à sensibilidade humana. Infelizmente poucos enxergarão tal grandeza: - "Não interessa! Não está na tv, não toca nas rádios".

O poeta sabe do seu ofício; aceita-o; compreende a diferença que o faz ser quem é.

Mas há os que enxergam, e aqui realizam farta colheita.
Deixo pois este lugar com cestos cheios desse "quê" que nos alimenta".
Belo poema!

Beijos.
Ricardo.