quarta-feira, 12 de maio de 2010

Beirada

O sexo era um prenúncio; Era a pretensão de uma completude vaga, Pelo gozo de desfalecer e esquecer o instante, e viver o instante; Era talvez um presságio de não existir, para reconhecer a existência parca, sumida, que finita se refazia em novo prazer de reviver; O sexo era vida e morte, um espelhado no outro; a face brilhante ainda que fosca diante da escura máscara; e ao fundo um riacho, límpido de peixes a ir, em cardumes coloridos, na fuga da isca, na procura da isca; O sexo era vertigem rasa e funda nas peles sobrepostas em delírio convulso, profundo e epidérmico; Era mesentérico o sexo, no ventre repleto, anelar, solar e lunar; Era submarino, andarilho, era o suspense da próxima cena não vista, sentida torta no olhar do outro, de olhos fechados em sonho de êxtase e abertos nublados, visionários, solitários e ansiosos de compartir o sentir indizível, indivisível; O sexo era o outro lembrado e esquecido, a disputa entre reconhecer a presença e a não presença, o lugar distante e próximo, alçapão; O sexo era razão e natureza, sentir razão, pensar natureza, sobrepostos, em estado de fronteira, beirada.

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