quarta-feira, 19 de maio de 2010

Himalaia

Ele vinha todas as noites, impreterivelmente uma hora após o anoitecer, quando o breu já era cortina de disfarce. Ela o aguardava nos muros, silenciosa, ou mesmo em outra parte que lhe conviesse, mas sempre de orelhas erguidas, predispostas a ouvir o seu som. Ele chegava com grito alto, desesperado de saudades, de olhos verdes em regalo, naquele corpo felino, todo a esticar como se o corpo corresse mais que a mente, como se corpo e mente disputassem uma corrida inevitável pela chegada nos cumes, Himalaia. Ela se chamava Himalaia; seus picos nevavam tanto, queimavam. Ele nunca teve nome, porque ele era só chamar Himalaia...Corriam pelos muros, pelos telhados, fundiam-se num estrondo rouco e agudo, soltavam-se exaustos e raivosos, ela de garras, ele de susto; admiravam-se por horas, enquanto o sereno esfriava seus corpos, e loucos se procuravam...Um dia ele veio na hora marcada de sua Loucura Himalaia, sedento por seus cumes ainda inexplorados, sempre secretos. Ele a convidou a ir sem lugar de chegada. Ela o seguiu. Nunca mais se ouviu falar deles e do grito Himalaia.

5 comentários:

Paulo disse...

...agora seu grito deve ser murmúrio :):):)

Renato Pittas disse...

Veloz_cidade, soturno como felinos pelos telhados de uma psicogeografia vouyerista!

Himalaiaevoltava!

Lina. disse...

"Himalaia, himeneu:
este gato nu sou eu.
Olhos de contemplação.

Inca, maia ou pigmeu:
minha tribo me perdeu,
quando entrei no templo da paixão."

Um Chico César adaptado. (rs)

Até!

Abraço!

Grã disse...

Impossível não segui-los por muros e telhados.
Impossível não imagina-los sedentos.
Impossível não admira-la, Himalaia.

Adorei o blog!

Bjs

lu trevejo disse...

lindo, lindo!
Vou te seguir