segunda-feira, 2 de maio de 2011

Perspectivas sobre o processo avaliativo na escola

Podemos considerar que a avaliação dos estudantes na história da educação atual conforma-se muito mais na perspectiva competitiva do mercado de trabalho, tendo em vista uma política cada vez mais exclusivista. Assim, as avaliações constituem-se em mais um dos instrumentos de manutenção do sistema capitalista, com a finalidade de garantir a estabilidade das suas ‘engrenagens’. Contraditoriamente, a escola que deveria estar envolvida com a humanização e a busca da cidadania, afigura-se muito mais como uma instituição a serviço da alimentação e incentivo da fixação dos conhecimentos necessários e, basicamente, operacionais, técnicos, e menos reflexivos, críticos.
A noção de competição, característica das empresas, migrou delas e se firmou em inúmeras instituições. E a escola, que deveria ser um lugar de troca de experiências e saberes, tornou-se um espaço para a obtenção de títulos que garantem a entrada no mercado de trabalho ou ainda um treino para a participação nos vestibulares. Dessa maneira, ‘os melhores’ avaliados são identificados, separados. Quem sabe não serão autônomos e poderão sonhar com uma vida mais digna? A criticidade então vira reserva de poucos, até porque é necessário sobreviver, pagar o preço, consumir. Assim, incentiva-se cada vez mais a educação para o trabalho e não para o exercício da cidadania.
Ora, como podemos conceituar, compreender a avaliação? Bem, podemos considerá-la sob vários aspectos. Contudo, em linhas gerais, podemos e devemos considerá-la como um processo e não apenas como uma ação terminativa, definitiva. No ensino baseado na concepção dialogal, a finitude é somente um ponto de apoio para o reinício de uma nova discussão. Nenhuma questão ou assunto se extingue. A avaliação é um passo para reconhecer, reconsiderar, recomeçar sempre. Não pode ser instrumento de coação e nem de acirramento das diferenças, mas de encontro de experiências e motivação do ensino e do aprendizado.
É fundamental que o conhecimento prévio dos estudantes e a característica de cada um seja observada para se estabelecer um processo racional e idealmente justo. Assim, compreender avaliação como um processo permanente e sensível se faz urgente. Cada dia de aula é dia de avaliar. Deve-se avaliar postura, participação, atitudes. Deve-se ultrapassar os conteúdos, pois que eles não são entes solitários, deslocados da realidade de cada estudante. A percepção de cada indivíduo é que constrói a riqueza do conhecimento, do aprender, posto que nada é absoluto, pois carece sempre e obrigatoriamente de um contexto. Submeter os estudantes aos tradicionais testes que apelam tão e somente à memorização e saberes curriculares, desconsiderando as particularidades e os esforços, é limitar as possibilidades de crescimento dos aprendizes.
O sistema avaliativo integra o processo de aprendizagem, é um instrumento importante para perceber, compreender o aprendiz em sua condição humana, que engloba limitações e possibilidades. Sendo assim, deve ser contínuo, flexível e coerente com a realidade do indivíduo, da escola, da comunidade. O pressuposto essencial da relação de ensino e aprendizagem deve ser o respeito pelo outro, a valorização. E nesta esteira, o processo avaliativo é um componente que pode subsidiar de forma positiva o intercâmbio de vivências, a compreensão de conceitos e processos, a retificação de procedimentos, mas, principalmente, provocar o reconhecimento do estudante de si próprio por meio do outro e de sua realidade, avivar suas habilidades e horizontes.

Um comentário:

Adilson Silvestre da Silva disse...

A sociedade vive num vórtice estúpido de valorizar cada vez mais o curto prazo. Avaliar significa trabalhar a construção do conhecimento no longo prazo. Nós nos desacostumamos com o esperar, queremos tudo para agora. E, quanto a competição capitalista, somos réfens por vontade própria, falta-nos o desejo de romper os grilhões dessa besta que nos consome. A avalição deve ser compreendido como um processo prazeroso de nos percebermos como sere capazes de melhorar; não de competir, como os governos e os donos do poder desejam. Suas palavras expressam aqueles pensamentos que permeiam os corações dos homens de bem. Parabéns pelas eloquentes palavras no seu breve, mas rico discurso acerca da avalição escolar, que serve também para a nossa vida nesse conturbado cotidiano.