sábado, 12 de janeiro de 2013

Folia de reis

Era a primeira vez que acompanhara um festejo de folia de reis de perto. Fora um encontro memorável, rico em imagens e sons. Tudo começou na Igreja Matriz do Divino Espírito Santo, em Varginha, mas o santo era descomedido, cheio de alegria e empolgação. Primeiro a missa cheia de mineiridade e latinidade, com ‘cio da terra’ em alto e harmônico som, depois Santo, Santo, anunciado como Deus humano que espera ansioso a hora da festa. Igreja cheia de gente em multiplicidade, de observadores a cristãos, de crianças aos mais longevos, de chapéus, sem chapéus, e idades da alma com a fantasia que toma conta de qualquer que seja. De repente todos saem orgulhosos carregando suas bandeiras de anunciação, até que veio a copiosa chuva dos santos. Todo mundo volta para a igreja no receio de molhar a alegria. E no remanso do choro do céu que viria, saíram os grupos de cantadores, tocadores e dançadores; sim, ores por eles que são pura intuição de devoção em feliz encenação. Acompanhara o cortejo a invadir a mecanicidade do trânsito, os olhares dos passantes de admiração e surpresa. Na calçada seguia um senhorzinho de chapéu de palha e um guarda-chuva cajado, a sorrir por ser companhia da procissão. E assim tantos outros. Mas os cabelos fartos e coloridos dos palhaços em faces máscaras escondidas, barulhentos na voz e nos pés, envolviam todos; eram carnavalização, permissão para extravasar, desculpa para pular em desatino, se divertir. Curiosa arrebentação de alegria na fé do nascimento de alguém salvador, mas sem o peso do pecado, da penitência. Festejo simples e complexo em mistura de fé e imaginação, ‘fantasiação’. Grupos companhias de foliões reis de gente, cada um rei, com violão, sanfona, rabeca, tambor e pandeiro. Reis de idade histórias, de tradição a inspirar pequeninos no ritmo da folia. Quantas crianças de todas as idades a festejar pra lá, pra cá. Tivera momentos de querer chorar, estranhamente chorar em meio à alegria por ver tanta alegria. A pensar como aquela celebração se perpetuara por anos nos corações a revelar arte espontânea, que rompe com a sacralidade intocável, para fazer chegar perto a presentear, para fazer poesia rara, de versos em repente, para conclamar todos a dançar e sorrir, e fazer festa.

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