quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

A rosa

Nunca havia dado uma rosa. Comprou uma vermelha forte, de pétalas rijas e reluzentes. Preferiu as sem espinhos. No caminho, teve dúvidas sobre a entrega, mas seguiu. Postou-se no portão da moça irrequieto, num vai e vem de quem quer mais é ir sem deixar rastros. Não foi. Apertou reticente a campainha. Colocou a rosa quase no chão da porta e se foi com o pulmão paralisado e o coração em suspense. Se fosse rosa andante entraria feito gato que afina o corpo pra passar em qualquer greta e se alojaria nas delicadas mãos de moça. Mas a rosa sem espinhos e ousadia ficou ali a mercê, um delicado sinal, prestes a desaparecer. Continuou vívida, quase ansiosa na cor, porém, imóvel até a porta se abrir. E aí foi pétala pra todo lado e caule machucado; a rosa ‘desconcertada’. A moça, num suspiro reprimido, olhou o chão de pétalas de sangue. A primeira rosa recebida na vida, assim despedaçada, mas sem os tropeços do caminho futuro, sem idas e voltas de quem chega e nunca sabe se fica.

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