sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

'Fotopictóricos'

Sempre achei que as paredes estavam lá para darmos um sentido a elas. Brancas ou de outra cor exata, prestes a receberem um quadro, um pôster, um artefato qualquer; não simplesmente para quebrar a monotonia e dar um ar decor. Conheço até quem goste de parede nua, sem inscrições aparentes, à espera de um sentido esperado ou inesperado. Cultivei algumas fotos emolduradas nesta vida; permiti que sprays coloridos manchassem os limites da minha intimidade. Montei quase um quebra-cabeça dos meus gostos musicais, cinematográficos e da realidade cotidiana, personagens da minha vida, eu mesmo. Encontrei o exato espaço na parede, onde meus olhos percebiam um significado compreensível, uma lógica incompreensível para outros. Ainda restam muitos brancos que não gostaria de preencher. A localização de cada um dos ‘fotopictóricos’ não é de uma exposição; eles não têm tempo marcado para ir embora, nem estão em busca de uns centímetros mais adequados para visitante ver. Seus lugares nasceram de um sentimento intuitivo de organização dos significados, fazem parte do meu entendimento do mundo. Não me importa que as pessoas se dediquem a contemplá-los longamente e até mesmo que fiquem injuriadas, mas de contragosto civilizado. Não me importo também que cheguem mansamente e me ajudem a montar os sentidos dos meus lugares, do meu lugar, desde que eu não perceba o desmontar de mim mesmo. Tudo o que está inscrito aqui nestas 'paredes minhas' tem um quê de 'seminudez minha', quase um conjunto de fragmentos para que eu me situe, mesmo de forma incompleta, nos momentos de acolhimento de mim mesmo, e até de desencontro.

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