segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Coincidência cadente

Era noite de lua cheia, quando o clarão faz da noite um passo pro amanhecer mesmo longe do amanhecer, tudo cheio de estrelas. Também era dia treze de uma sexta, quando eu e compadre Zequinha sentamos bem em frente ao boteco do Lourival para tomar uma ‘branquinha’ ou ‘amarelinha’ de carvalho. Estávamos deveras inspirados, pelo clima, pelo dia...sei lá...agarramos de prosa de um jeito...A pinga descia quente, de ardor moderado, e o papo ia na cadência dela. Caímos no palavrão coincidência, saltamos para acaso que era menorzinho e, finalmente, compusemos o tal traçado do destino. ‘Que negócio é esse de coisa já pronta Zequinha? A vida da gente, a gente vai levando como pode, e se tem algum desentendido é porque não firmamos atenção. E esse traçado...ihh...é todo falhado.’ Eu nem estava aí pra desfazer o dito do compadre, gostava mesmo era de vê-lo agitado, de palavreado bem formado, cheio de certezas. Mas há algum tempo matutava sim sobre os acontecidos, os idos que nunca soube explicar. Eu não queria era dar essa confirmação pra ele. Sempre fui meio desacreditado de tudo mesmo. Certa vez me disseram: ‘tem coisa que é do sagrado, tá escrito; e se não tá já prontinho, tem alguém ou um além, uma marcação qualquer que a gente não escapa.’Aí eu fiquei pensando; tem coincidência que a gente quer, a gente deseja tanto, que acontece...então nem é coincidência...é só um disfarce. Outro dia desses mesmo pensei tanto na moça Rosinha que fui parar na frente da casa dela e não é que ela saiu no mesmo instante? Coincidência danada de boa essa...eita! Depois pensei melhor sobre os acasos sem vontade, sem força na mente, talvez as verdadeiras coincidências, os encontros duvidosos. Confesso que nem quis dizer isso pro Zequinha, porque ele ia sair vitorioso demais, ainda mais na sexta treze...Saímos do Lourival pendentes até demais, de conclusões, de certos e incertos; eu rindo do compadre, do sagrado dele, mas no fundo meio mexido por dentro. É...essa tal coincidência dando nó em mim...Nunca mais fui ao portão da Rosinha e nem a vi, mesmo pensando nela todos os dias...Onde será que ela foi parar? Coincidência é mesmo coisa estranha, sem explicação, e o que a gente faz com ela é uma história boa ou ruim, uma lembrança ou um esquecimento; termina que é o que interessa. No final das contas a coincidência é uma estrela cadente pra gente não ver, ou pra fazer pedido e se encher de vontade.

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