quarta-feira, 16 de junho de 2010

Enquanto 'dorme'

À meia luz, insone, ela se posta de olhos abertos, atentos à face ao lado; Nos cantos da boca dele o meio sorriso beijado de lábios rasgados, uma imensidão que ela beija agora sem tocar; O sentimento do respiro suave das narinas, do olfato obtuso em querença de compreensão, o cheiro compartido feito lastro; Os olhos dele estão fechados em sono irrecusável, indecifrável, enquanto os dela, vigilantes, teimam em congelar a cena, a encantadora cena alheia ao contemplar dela, frágil no ressonar delicado, desprotegido; forte na alienação do mundo onírico; Inerte num movimento encantador de imagem plácida, perfeita escultura de tons rasos e profundos, traços delineados; Imagem amada em exagero do peito dela das horas de pensar e ‘impensar’ por só sentir; Aquela imagem ali, ao lado, sob vigília de um olhar à procura de densidade, de precisão, de atenção; No oculto da penumbra, liberdade; no acalento imprevisível do sonho dele, prisão? Que sonho sonha ele? Ah, ela teme não ser o sonho daquele instante; Ela nega aquele sonho por não participá-lo; Admira aquele sonho que não vê; Sonha junto aqueles sinais do rosto, aqueles pulsares involuntários do corpo dele; Que vaguidão se permite ele naquele momento que escapa dos dedos de nervos, aguçados desejos dela? Naquela festa do inconsciente libertário, caótico, maravilhoso e até horrendo para a qual não foi convidada? Enquanto ele ‘dorme’, ela adormece o real e sonha o sonho dela; Enquanto ele ‘dorme’, ela desperta o seu sonho de olhos arregalados; E desenha aquele rosto com rigores de afeto; Revela e amplia na mente a fotografia dele enquanto ‘dorme’...

2 comentários:

Renato Pittas disse...

Qunado em busca de alumbramentos, vou a entrelugares!

Nina Blue disse...

E assim, vamos sonhando juntos...