Histórias sempre estão na fronteira; por mais que tentemos acomodá-las elas esbarram no real vivido, ouvido, lembrado; elas esbarram no imaginado, sonhado, criado...por isso evocamos os entrelugares, onde cabem o contraditório, o surpreendente e até o esperado...todos eles permissíveis à intromissão do eu e também à sua ausência, mesmo disfarçada.
quinta-feira, 24 de junho de 2010
Não arre(mate)
Não queria mais que a olhassem. Queria que a sentissem. Que a sentissem de todas as formas, com admiração e desdém. Negava a imagem, porque nela nem sempre se revelavam os sinais do sentir; e mesmo do não sentir, de quem morava profundo num vazio tantas vezes, até sem buscar o sentido, porque no meio do caminho não vinha ânsia alguma de continuar, quando o pulsar do coração enfraquecia, esvaecia... De quem morava profundo em significados por vezes, em sentimentos recônditos e explosivos, de um querer compartir, estar perto, amar... Essa imagem não condizia, senão pelas palavras pensadas, que proferira, que calara. Esse retrato não combinava, era parco, fragmentado... e ela parca e fragmentada era irretratáveis momentos de angústia e euforia, de permanência e inconstância...Negava, negava esse quadro arrematado por tantos olhares estranhos...e que a julgavam num traçado de expectativas vãs, num meio sorriso, ou num sorriso todo, contentamento; ou num franzimento entre os olhos, desespero...Não queria mais que a olhassem só imagem, que sem palavra dita, redita e calada era ninguém, porque não fora pintada com rigores de cores exatas, com profundidades e traçados em arte de ver e analisar, mas no sentimento de rigores, rigores tão fundos que afundavam nas molduras e iam morar dentro das paredes cheias de falhas, ou amalgamadas com cimento forte, ou esfarinhadas, paredes frágeis, paredes sanitárias...Essa imagem a combatia, a esfacelava, doía como ferida os olhares, pois que ela era apenas espectro em lugares vastos e restritos...era apenas possibilidades impossíveis, uma fotografia viva escrita no tempo, pelo tempo, até desaparecer, tal como desaparecia a todo momento de vidas, de lugares, de si mesma...Negava o olhar avaliador, de arre(mate)...
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6 comentários:
Mas ela não desaparece. Só muda de tom.
;)
De certa maneira não desaparece mesmo Paschoal...mas quase...Obrigada pela visita! Com tempo visitarei seu lugar!
Abraço
É uma imagem que se faz por existir e por significar, não é? ;)
Ótimos posts, Keila.
Abraços
Sim Renato...porque o existir sem significado torna-se vazio...um desaparecimento...mas confesso que não me pus a escrever com ânsia de precisão, mas gostei da sua leitura... Obrigada pela visita!
Abraços
Dois Renatos e eu, pra falar :- Que lindo texto!
Já falei que amo teus escritos?
Beijos, Nina.
aaaaahhhhhhh-parências!
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