terça-feira, 11 de março de 2008

A luz de Vagner

Tem gente que faz a gente sorrir por dentro; que deixa a gente boquiaberto mesmo de boca fechada e que faz a gente pensar, pensar...e se encantar. Roberta nunca achara a profissão de motoboy das mais gratas. Pelo contrário, sempre pensara que “rimava” com caos, espaços estreitos, tempos corridos, contados, entrega isso, busca aquilo, quase sempre, sem sequer um olhar. Mas Vagner mudou tudo. Tornou-se em poucas semanas o preferencial no escritório onde ela trabalhava. Tinha uma delicadeza, um sorriso no rosto, que não vira em sua vida muitas vezes. Não era uma norma de comportamento. O sorrir era leve, fácil, sem nenhum esforço. A fala era baixa, pausada, sem os respiros da correria. Se demorava a chegar, desculpava-se. Vagner exalava gentileza, tanto que um dia ligou do correio e perguntou: o dinheiro que me deu não é suficiente para despachar a encomenda, quer que eu pague e depois acertamos? Luísa, que também trabalhava no escritório e atendera o telefone, ficou visivelmente afetada: Não Seu Vagner...pode não...o valor é alto...não tenho essa quantia no meu caixa. As meninas olharam umas para as outras, desta vez, boquiabertas de verdade. E esse foi só um dos episódios atenciosos de Vagner. Toda vez que o Vagner vinha, todos se sentiam tranqüilos pelo serviço bem feito, mas Roberta pensava: será que quem recebe as encomendas tem idéia de quem faz a entrega? Outro dia desses Roberta solicitou (era impossível mandar) a Vagner que levasse uma luminária. Ele demorou a chegar, pediu mil desculpas e se foi com o sorriso de sempre...Roberta sabia que o baú da moto de Vagner era uma espécie de compartimento do coração. Que o que Vagner levava jamais seria uma entrega qualquer. Que aquela luminária adquirira a partir daquele momento outra luz, a luz do gentil Vagner.

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