Histórias sempre estão na fronteira; por mais que tentemos acomodá-las elas esbarram no real vivido, ouvido, lembrado; elas esbarram no imaginado, sonhado, criado...por isso evocamos os entrelugares, onde cabem o contraditório, o surpreendente e até o esperado...todos eles permissíveis à intromissão do eu e também à sua ausência, mesmo disfarçada.
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
Mãos
Sem paciência para os textos longos, delas e dos outros, as mãos carregavam o tempo longo sem horas marcadas, mas de momentos extensos. Elas até gostariam de registrar o ‘irregistrável’, o intenso comovido, gritado, chorado, sorrido; mas frágeis, só têm a memória do momento e sequer deles sabe ao certo, dos relógios. Mãos sem oras, nem vejas, nem luvas e tantas luvas. Tantas viagens por dia custam a elas um tempo que elas não têm, não detêm, e se convêm a elas, vem aquele tempo cortado, repleto de sensações e senões. Mãos atávicas, de raridades ordinárias, amáveis, resolutas, imprecisas. De encontros tontos; guardam o peso dos ombros, a leveza do sorriso, o contentamento do carinho. Guardam até outras mãos, grudadas mãos de pele árida ou tropical, de desejos soltos ou contidos. Livres e presas no mundo dos fazeres e dos haveres, mãos irmãs da gente, pulam, recuam. Nuas mãos de dedos com verrugas, apontamentos sobre a lua, do branco do papel de textos tantos, acalanto, pranto e espanto.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário