segunda-feira, 20 de julho de 2009

Até que os olhos se fecham...

Era uma perfusão de imagens fundidas em uma só, e ainda assim múltiplas, de facetas sérias e sorridentes. Não saberia precisar a exatidão e nem a inexatidão daqueles momentos de mirar-lhe o rosto, por vezes ranhurado das pregas do sorriso, por vezes retesado como um monólito; e por traz daqueles óculos, um certo olhar comprimido, como se fizesse um movimento de acendimento qualquer, pra ver melhor aquilo que diante de seus olhos poderia ser mera ilusão, ou simplesmente a tentativa de driblar o embaçamento das lentes de grau ou a penumbra das lentes de sol. A face se colocava também num relaxamento involuntário e os lábios entreabriam, mostrando os dentes incisivos principais desalinhados com os outros, em posição de riso brando, contemplativo. E as mãos buscavam a curva do ombro ou qualquer pedaço de pano pendente de sol ou luar, sem saber se queria vestir ou despir aquele momento de todas as intempéries do olhar e da audição. Não queria ser visto, mas ver e tocar o lapso de encantamento; encontrar alguma acertiva para os pensamentos involuntários que rondavam seu corpo, e a mente precisava conter o gesto que de tanto se fazer, desfazia-se num respirar vago e incrédulo. Incredulamente passava aqueles momentos diante de imagem meio obtusa, irritante e até ordinária. Credulamente se postava e pedia um afago qualquer que fosse pra crer naquele instante de divindade e afeto, de sonho refeito no último momento, ressuscitado. Roçava-lhe vagamente a pele do pescoço, num átimo, insuficiente para o gosto e o cheiro serem guardados, senão um único fechar de olhos, quando qualquer um aninha-se no outro, como a dormir na instantânea fragilidade de olhos fechados...

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