segunda-feira, 6 de julho de 2009

Depois daquele tempo

Depois daquele tempo, em que a juventude já passara, mas ainda sobravam alguns resquícios, as pupilas brilhantes, os olhos meio rasos ao acordar...
Depois daquele tempo, quase um tempo milimétrico diante da imensidão das horas incontáveis, irreprimíveis de tantas vivências, os olhos subitamente começaram a mergulhar em poço fundo, suas órbitas ganharam bordas arroxeadas...
Depois daquele tempo, em que o sorriso se abria em músculos bem assentados, em gordurosas bochechas e covas, o riso começara a ficar solto, sem os limites aconchegantes de tempos outrora...e a graciosidade das marcas esculpidas desde o nascedouro escapavam...
Depois daquele tempo, os ossos da face já eram indiscretamente visíveis, marcando ângulos antes submersos; praticamente era possível entrever o esqueleto frágil, a verdade óssea camuflada...
Depois daquele tempo, o espelho não devolvia mais aquela imagem suave, de contornos agradáveis e harmônicos; via-se agora a irrupção de qualquer coisa, não se sabia qual, de passar e não voltar...de flexibilidade débil, como um esgarçamento qualquer...
Depois daquele tempo, o sono não servia mais de elixir e o rosto retornava até em pesadelo; sôfrego, não trazia mais o gesto do sonho encantado...

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